Topo

Josias de Souza

Lama inibe guerra entre Witzel e clã Bolsonaro

Pedro Ladeira/	Folhapress
Imagem: Pedro Ladeira/ Folhapress

Colunista do UOL

13/08/2020 04h03

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Inimigos figadais, Wilson Witzel e a dinastia Bolsonaro travavam no noticiário um intenso tiroteio. Súbito, passaram a cultivar um inusitado cessar-fogo.

A trégua não decorre de um acordo formal. Foi produzida pelo excesso de lama. Enrolados em inquéritos, o governador do Rio de Janeiro e os membros do clã presidencial concluíram que não convém falar sobre corrupção a não ser em legítima defesa.

Witzel é protagonista da delação premiada do ex-secretário de Saúde do Rio, Edmar Santos. O acordo de colaboração judicial acaba de ser homologado pelo ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça.

Os Bolsonaro estão pendurados nas manchetes como adeptos da mais primitiva forma de poupança: o colchão. Desenvolveram uma aversão às transferências bancárias eletrônicas. Preferem fechar transações milionárias em dinheiro vivo. Indício de lavagem de dinheiro, suspeita o Ministério Público.

O delator de Witzel confessou ter desviado verbas da Saúde que deveriam ter sido aplicadas no combate à pandemia. Acusou o governador de participar do butim. Pilhado com cerca de R$ 8,5 milhões escondidos num de seus imóveis, o ex-secretário terá de devolver a grana.

Entre recebimentos e desembolsos, os membros da família presidencial movimentaram à margem do sistema bancário pelo menos R$ 1,5 milhão. Há na lista um par de filhos e uma ex-mulher de Jair Bolsonaro.

O primogênito Flávio Bolsonaro, por exemplo, comprou em moeda sonante salas comerciais (R$ 89 mil, em 2018) e um par de apartamentos (R$ 638,4 mil, em 2012).

Witzel guerreia na Justiça e foge de um pedido de impeachment na Assembleia Legislativa do Rio. O Zero Um, aboletado numa poltrona de senador, briga por um escudo do foro privilegiado e evita passar na frente do Conselho de Ética do Senado.

Numa conjuntura assim, tão enodoada, a manutenção da guerra entre o governador fluminense e a família real soaria como excesso de cinismo. Se o conflito for retomado sem água e sabão, quem observar de longe terá dificuldade para distinguir sujos de mal lavados.