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Josias de Souza

História do Rio é uma senhora gorda e exagerada

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

04/09/2020 02h47

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No Rio de Janeiro, a história não é uma testemunha discreta que observa as cenas e anota tudo com precisão. É uma senhora gorda e exagerada, que prefere os acontecimentos inacreditáveis aos fatos banais.

Quando a posteridade puder se pronunciar sobre o Rio dos dias atuais sem ser assaltada por uma gangue do governo estadual ou xingada por capangas pagos pela prefeitura, ela fascinará os brasileiros do futuro ao mostrar que a exatidão está no exagero.

A história descreverá uma espantosa sequência de acontecimentos extraordinários ocorridos com personagens ordinários. Um ex-juiz eleito governador enrolado na bandeira da ética é enxotado do cargo pelo Judiciário sob a acusação de roubar verbas da Saúde.

Um bispo evangélico alçado ao posto de prefeito como protótipo da moralidade livra-se do impeachment mesmo mantendo em sua equipe duas dezenas de capangas escalados para hostilizar jornalistas e silenciar a clientela maltratada em hospitais públicos.

Wilson Witzel e Marcelo Crivella não mereciam chegar onde chegaram. E o Rio não merecia ver o seu destino misturado a tanta mediocridade depois de ter assistido à passagem de cinco governadores pela cadeia.

Quando puder falar sobre o Rio sem ser importunada pelos incômodos da conjuntura, a história gorda e exagerada talvez busque paralelos na dramaturgia grega. A história virou um pesadelo do qual o Rio de Janeiro não consegue acordar.