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Josias de Souza

Bolsonaro torna humilhação de Guedes um hábito

Colunista do UOL

15/09/2020 12h54

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O feitiço do Renda Brasil foi enfeitiçado. Concebido como grande trunfo eleitoral de Jair Bolsonaro, o que deveria ser um novo e vistoso Bolsa Família foi convertido por Paulo Guedes e sua equipe num instrumento de tortura psicológica de eleitores humildes.

Impedida por Jair Bolsonaro de tirar dinheiro de quem tem muito pouco para dar a quem não tem coisa nenhuma, a equipe econômica tramava agora impor uma tunga aos aposentados, congelando aposentadorias e pensões por dois anos.

Além de reforçar a sensação de que sofre de demofobia, aversão a povo, o time da Economia conseguiu provar que a diferença entre a genialidade e a estupidez é que a genialidade tem limites. Bolsonaro, que não é bobo, puxou o cartão vermelho.

Pelas contas de Waldery Rodrigues, secretário especial de Fazenda da pasta de Paulo Guedes, o congelamento dos benefícios previdenciários por dois anos submeteria os velhinhos brasileiros a uma tunga de R$ 58,5 bilhões. Em 2021, a mordida seria de R$ 17 bilhões. No ano eleitoral de 2022, seriam mastigados mais R$ 41,5 bilhões.

Não é preciso ser gênio para perceber que o Renda Brasil deixaria de ser uma arma eleitoral de Bolsonaro para se transformar um míssil apontado para os pés do candidato à reeleição.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, divulgada há quatro meses pelo IBGE, há no Brasil algo como 30,7 milhões de pessoas com alguma renda de aposentadoria ou de pensão.

Supondo-se que cada brasileiro de pijama tenha uma média de quatro parentes, a ideia genial da equipe econômica teria potencial para aborrecer 122,8 milhões de eleitores.

O reajuste dos benefícios previdenciários pela inflação está previsto na Constituição. Significa dizer que o governo precisaria aprovar uma emenda constitucional. Algo que exigiria os votos de 308 dos 513 deputados e de 49 dos 81 senadores.

Paulo Guedes não tem vocação para humorista. Mas começava a virar motivo de risos no Congresso. Até bem pouco, os velhinhos brasileiros acreditavam piamente que o destino deles estava nas mãos de Deus. Guedes e sua equipe queriam colocá-los no colo do Tinhoso.

Bolsonaro esclareceu que considera mais fácil explodir um Posto Ipiranga do que implodir os humores dos aposentados. Pela segunda vez em menos de um mês, o ex-superministro da Economia foi humilhado em público pelo chefe. Está virando um hábito.