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Josias de Souza

Zonzo no gramado, capitão puxa cartão vermelho

Colunista do UOL

15/09/2020 20h31

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Há duas semanas, Paulo Guedes levou os lábios ao trombone para alardear a chegada de um "Big Bang" econômico. Ele associou a explosão que deu origem ao universo a um pacote que conciliaria os seus pendores liberais com o social-eleitoralismo que Jair Bolsonaro desenvolveu durante a pandemia. Desde então, a única coisa que explodiu foi a paciência do presidente. Não uma, mas duas vezes. O universo da administração Bolsonaro não foi recriado. Mas sofreu importantes alterações.

O prestígio do liberalismo de Paulo Guedes junto ao chefe, que diminui há tempos, encolheu um pouco mais. Cabe numa caixa de fósforos. E o Renda Brasil, versão bolsonarista do Bolsa Família, foi declarado morto por Bolsonaro antes do nascimento. A causa mortis foi excesso de esperteza do presidente e de improvisação dos auxiliares. Errar é humano. Mas escolher o erro cuidadosa e meticulosamente, num esforço coordenado de uma equipe de trabalho, só mesmo no Posto Ipiranga.

Numa frase de rara sensatez, Bolsonaro avisou que não aceitaria tirar dinheiro dos pobres cadastrados em programas sociais já existentes para dar aos paupérrimos do novo Bolsa Família. De volta às pranchetas, o time da Economia teve a ideia genial de sugerir que o dinheiro do Renda Brasil viesse de uma tunga de R$ 58,5 bilhões aplicada sobre os aposentados, cujos benefícios seriam congelados por dois anos.

Segundo o IBGE, há no Brasil 30,7 milhões de pessoas com alguma renda de aposentadoria ou de pensão. Se cada brasileiro de pijama tiver quatro parentes, o congelamento dos benefícios teria potencial para aborrecer 122,8 milhões de eleitores. Bolsonaro preferiu ameaçar com o cartão vermelho o gênio que cogitou bulir com os aposentados.

O cartão não foi pra mim, disse Guedes, empurrando para a beira do gramado o seu secretário Waldery Rodrigues, que levou a tunga às manchetes. Nesse jogo, Waldery é um zagueiro sem importância. Quem está zonzo no centro do gramado é o próprio Bolsonaro. Depois de driblar a impopularidade com o auxílio emergencial, o candidato ainda não sabe o que colocar no lugar a partir de janeiro.