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Josias de Souza

Governo faz sua própria herança maldita no MEC

                                Isac Nóbrega/PR
Imagem: Isac Nóbrega/PR

Colunista do UOL

18/09/2020 03h09

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Virou parte da coreografia da política: todo governo, quando se instala, culpa administrações anteriores pelas mazelas que encontra. Mas chega uma hora em que é preciso fazer mais do que chutar antecessores. No Ministério da Educação, o governo Bolsonaro dedicou-se tanto à satanização do passado que esqueceu que foi eleito para consertar o presente. Em consequência, o MEC passou a produzir sua própria herança maldita.

Milton Ribeiro, acomodado por Bolsonaro na poltrona de ministro da Educação há apenas dois meses, amargou um corte de quase R$ 1,6 bilhão no orçamento de sua pasta para este ano de 2020. A verba foi passada na lâmina pela equipe econômica porque o MEC não teve competência para gastá-la, informa o próprio ministro.

Ignorado pelo Planalto e pela Economia, Milton Ribeiro suplica ao Congresso que lhe devolva o dinheiro. Em encontro com parlamentares, revelou que, na gestão do antecessor Abraham Weintraub, o MEC se absteve de apresentar projetos. Citou o caso da ex-secretária de Educação Básica, Iloma Becskeházy. Disse que, por falta de execução do orçamento, esse setor sofreu um talho de R$ 900 milhões. "Não havia nem empenho, nem projeto, nem nada", acusou.

No total, ações voltadas à educação básica, uma prioridade de gogó, sofreram cortes de R$ 1,1 bilhão. O programa de ensino médio integral, também estratégico, perdeu R$ 500 milhões. Parte da verba subtraída do MEC foi destinada ao pagamento de emendas que os parlamentares penduraram no Orçamento da União. Caberá aos próprios congressistas aprovar os remanejamentos. Daí as súplicas do ministro.

Na área educacional, a gestão de Bolsonaro atingiu o estágio do desastre autossuficiente. O governo encaminha o Orçamento ao Congresso, ele mesmo se abstém de executar os gastos que sugeriu, ele mesmo passa a verba na faca, ele mesmo corre o chapéu para tentar reaver o dinheiro que cortou.

Descobre-se, finalmente, qual é a serventia da "guerra cultural" que se instalou na pasta da Educação. Serve para que o governo dispare mísseis contra o próprio pé. Em menos de dois anos, passaram pelo comando do MEC uma piada (Velez Rodrígues), uma alucinação (Abraham Weintraub) e um currículo com glúten (Carlos Decotelli).

Milton Ribeiro, a quarta tentativa, vai se transformando numa espécie de caída em si. É como se o ministro percebesse que o governo, diante da evidência de que a Educação é cara, resolveu fazer uma opção preferencial pela ignorância. Deu no que está dando.