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Josias de Souza

Heleno não distingue autoconfiança de cinismo

Colunista do UOL

21/09/2020 21h10

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O general Augusto Heleno é o homem mais lúcido que ele conhece. Está sempre do lado da razão, exceto nas ocasiões em que a razão discorda dos seus pontos de vista. Em matéria de meio ambiente, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional divide as pessoas em dois grupos: ou o sujeito é inteligente ou é crítico da política ambiental. Quem está no segundo grupo deseja duas coisas: "Prejudicar o Brasil e derrubar o governo de Jair Bolsonaro".

Amigo de Bolsonaro, Heleno esgrimiu sua lealdade ao presidente numa audiência pública no Supremo Tribunal Federal. Soou categórico, sem fazer concessões à dúvida. Disse que "nações, entidades e personalidades estrangeiras" mentem sobre as ações do governo na Amazônia. Ecoam críticas que partem de "alguns poucos brasileiros que se alinharam a propostas de deslustrar o Brasil." São pessoas que "até hoje não admitiram a alternância de poder."

O que o general declarou, com outras palavras, foi mais ou menos o seguinte: Inconformados com a ascensão de Bolsonaro ao Planalto, petistas e suas viúvas estariam fornecendo matéria-prima para um golpe urdido no estrangeiro contra Bolsonaro. Sem perceber, Heleno imita o petismo no seu principal argumento: tudo não passa de perseguição política.

Embora seja inverossímil, a versão do complô internacional contra Bolsonaro é a que mais convém ao governo. O presidente da República colocou um ministro antiambiental para cuidar do Meio Ambiente. Avalizou o desmonte dos órgãos de combate a crimes ambientais. Questionou a acurácia dos dados científicos colecionados pelo INPE, instituto respeitado internacionalmente. Esnobou doações de mais de R$ 3 bilhões para o Fundo Amazônia.

Diante de uma conjuntura assim, é mais reconfortante enxergar Bolsonaro como vítima de um complô de nações, entidades e personalidades estrangeiras, para converter um presidente modelo num administrador ruinoso. A alternativa seria admitir que tudo o que está na cara não pode ser uma conspiração da lei das probabilidades contra um gestor de mostruário. Pior: seria necessário reconhecer que o GSI, aparato de informação do governo, está nas mãos de um general que não consegue medir a distância que separa a autoconfiança do cinismo.