Coreografia que conduz à poltrona do Supremo é pouco decorosa
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O ideal na escolha de um ministro do Supremo Tribunal Federal é que o candidato seja juridicamente preparado e politicamente neutro. Esse ideal é uma utopia. O preparo jurídico nem sempre é colocado em primeiro plano. E a neutralidade política nunca foi um quesito levado em conta. É natural que o indicado seja ideologicamente afinado com o presidente, comungando da mesma visão de país, de mundo e de sociedade. O que não se admite é que a escolha envolva algum tipo de compromisso pessoal ou partidário, mesmo que implícito. É nesse ponto que a movimentação de Jair Bolsonaro inspira dúvidas.
Ao voltar suas atenções para o desembargador piauiense Kássio Nunes, hoje lotado no TRF-1, o presidente surpreendeu sobretudo os áulicos que lhe faziam agrados no pressuposto de que poderiam ser escolhidos. Bolsonaro como que estimulava a prestação de serviços. Era como se um novo critério tivesse sido introduzido no processo: a fidelidade dos candidatos deveria ser demonstrada antes da indicação, não depois de vestir a toga.
O tempo ajudará a iluminar o interesse de Bolsonaro pelo nome de Kássio Nunes. Mas a coreografia da aproximação não ajuda a tornar o processo decoroso. Bolsonaro encontrou-se com o desembargador Kássio na casa de Gilmar Mendes, o ministro do Supremo que tem nas mãos o processo que definirá se Flávio Bolsonaro terá ou não foro privilegiado no caso da rachadinha. Estavam presentes Dias Toffoli, que trancou a investigação contra o Zero Um por seis meses, e o senador Davi Alcolumbre, que espera receber um empurrão do Supremo para burlar a Constituição reelegendo-se presidente do Senado.
Para completar o déficit republicano da conjuntura, a opção pelo doutor Kássio foi avalizada por Flávio Bolsonaro e efusivamente elogiada pelo senador do centrão Ciro Nogueira, freguês da Lava Jato. São muitos os processos judiciais e as investigações em curso que interessam à Presidência, sua família e aliados políticos do governo. O que incomoda no processo de escolha do ministro do Supremo não é a busca de um candidato ideologicamente afinado com o presidente. O que inquieta é a percepção de que o titular do Planalto possa estar à procura de um prestador de serviços. Não será a primeira vez. E não há a certeza de que funcione.
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