Era o que faltava: um currículo-tubaína no STF
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Governar é tomar decisões. A escolha de um ministro do Supremo não é uma decisão qualquer. Não é como escolher uma gravata entre muitas. De certo modo, foi como se o presidente escolhesse um Bolsonaro entre muitos. Em momentos assim, não se deve dizer "desta tubaína não beberei". Mas convém verificar o currículo antes. O capitão preferiu dar de ombros: "Não vou botar uma pessoa só por causa do currículo." Deu chabu.
Descobriu-se que o currículo de Kássio Marques contém anabolizantes. Nele, está escrito que o escolhido de Bolsonaro é "pós-doutor" em Direito Constitucional pela Universidade de Messina, na Itália. Está anotado também que o magistrado dispõe de "postgrado" em contratação pública pela Universidad de La Coruña, na Espanha. Na verdade, o curso italiano não passou de um ciclo de palestras. Nada a ver com um pós-doutorado. O espanhol foi um curso de extensão de cinco dias.
Kássio não vê problemas em seu currículo. Faz sentido. Pode-se desconfiar de uma verdade. Mas a mentira, como tal, será sempre rigorosamente verdadeira. Melhor não discutir com especialistas. Não seria justo, tampouco, criticar Bolsonaro. O presidente avisou. Embora dispusesse de uns dez bons currículos, o presidente preferiu selecionar alguém que "já tomou muita tubaína" com ele.
Há algumas esquisitices na Suprema Corte brasileira —de ministro reprovado em concurso para juiz a magistrado que mantém negócio privado. Agora, a supremacia do Supremo será tisnada por um currículo-tubaína. Não chega a ser um grande exemplo. Mas constitui um extraordinário aviso.
Bolsonaro não cogita rever a nomeação. Ao contrário. Já se equipa para indicar o substituto de Marco Aurélio Mello, que se aposentará em 2021. Deseja mais do que um ministro terrivelmente evangélico. Agora, promete selecionar um pastor. Chega a profetizar: "Imaginemos as sessões daquele Supremo Tribunal Federal começarem com uma oração".
Generoso, Bolsonaro não reivindica para si todos os méritos. "Tenham certeza de uma coisa: isso não é mérito meu. É a mão de Deus." A sorte de Bolsonaro é que o Todo-Poderoso, embora seja onipresente, já não dá expediente full-time. Do contrário, responderia ao capitão: "Você ainda não sabe do que o centrão é capaz!"
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