Apoio do papa à união gay tem cheiro de história
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Em entrevista a um documentário que estreou nesta quarta-feira (21), no Festival de Cinema de Roma, o papa Francisco declarou: "Os homossexuais são filhos de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deve ser expulso ou infeliz por isso. O que temos é que criar uma lei sobre as uniões civis. Eu lutei por elas."
A declaração tem cheiro de história. Mas já não surpreende. Em 2013, instado a dizer o que pensava sobre os homossexuais, o papa já havia declarado: "Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade quem sou eu para julgar?".
Em 2014, o papa convocou um Sínodo. E incluiu os gays na pauta dos bispos. O texto discutido na época anotava que "as pessoas homossexuais têm dons e qualidades que podem oferecer à comunidade cristã." Recomendava "acolhimento" e "valorização."
A homossexualidade é um dado da realidade. Existe a despeito da vontade da Igreja. Está presente, aliás, no interior de bons seminários, conventos e mosteiros. Mas sempre foi tratada pelo Vaticano como uma agressão à natureza, um atentado contra o "crescei e multiplicai-vos".
O papa inova ao remoçar a velha pregação. Suas palavras ornam com os valores cristãos. No versículo 34 do capítulo 13, o livro de João anota um dos mandamentos mais valiosos de Deus: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei... Jesus disse isso antes do início do calvário que o levaria à crucificação. Não há referência a exceções. Amai-vos, ponto final!
A Igreja move-se como um transatlântico, lentamente. Ainda que quisesse, Francisco não conseguiria converter opiniões pessoais em doutrina. Isso não é algo que ocorra do dia para a noite. E o papa não parece acalentar esse tipo de pretensão. Apenas esteve a mão. O tempo dirá se o gesto sobreviverá a Francisco.
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