Vacina: Bolsonaro flerta com derrota no Supremo
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No ápice da guerra que opõe Jair Bolsonaro e João Doria, o governador de São Paulo encontrou-se em Brasília, na noite de quarta-feira, com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux. Lero vai, lero vem, a conversa evoluiu para um tema incontornável: a vacina. Fux atalhou a prosa. Disse que preferia não conversar sobre o tema. Sabe que terá que se manifestar sobre a encrenca como magistrado, num julgamento submetido ao plenário da Suprema Corte.
Na noite de quinta-feira, Bolsonaro disse na sua transmissão semanal pelas redes sociais: "Duvido que a Justiça vá obrigar alguém a tomar a vacina". Além da obrigatoriedade, prevista em diferentes leis, inclusive numa que Bolsonaro sancionou em fevereiro, está em questão a inclusão da vacina chinesa a ser fabricada pelo Butantan no programa nacional de vacinação do Ministério da Saúde.
Luiz Fux previu o óbvio: "Podem escrever, haverá uma judicialização" da encrenca da vacinação. As ações já começaram a chegar ao tribunal. O ministro definiu a entrada da Suprema Corte na contenda como "necessária" e "importante." Não é difícil antever o que está por vir. Se não desistir do papel de garoto-propaganda da liberdade de infectar, Bolsonaro será derrotado no plenário do Supremo. Se tivesse juízo, o presidente retiraria a raiva do pudim e se reposicionaria em cena. Mas juízo é matéria-prima que não orna com a antecipação da pauta de 2022.
O mais curioso é que a guerra da vacina é tão irracional quanto inútil. Se todas as vacinas que estão sendo testadas se revelarem eficazes, ainda assim a procura será maior do que a oferta. A realidade vai impor a vacinação. Empresas convidarão seus funcionários a se vacinarem. Escolas condicionarão as matrículas à vacina. Países exigirão o comprovante de vacina dos viajantes. Um presidente que dizia em março que era preciso enfrentar o vírus "como homem, não como moleque" deveria considerar a hipótese de substituir a molecagem pelo interesse público.
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