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Josias de Souza

Tática de Bolsonaro sobre vírus perde a validade

Colunista do UOL

09/11/2020 19h49

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A intuição é o faro da mente de um político. O instinto de Jair Bolsonaro, normalmente aguçado, pode estar deixando o presidente na mão. Bolsonaro estimula seus apoiadores a votarem contra a recondução de prefeitos que adotaram o isolamento social como tática de contenção da pandemia. Ele demora a perceber os sinais de que essa estratégia pode estar com o prazo de validade vencido. A sinalização mais eloquente vem dos Estados Unidos. Mas há também avisos domésticos. O mais sintomático vem de São Paulo.

"Quem é que mandou fechar tudo, ficar em casa?", perguntou Bolsonaro aos seus devotos. "Destruição de emprego do Brasil, quem fez?", ele indagou, antes de estimular os seus devotos a evitarem o voto em "prefeito que fechou tudo." A pandemia que Bolsonaro chamava de "gripezinha" já matou no Brasil mais de 162 mil pessoas desde março. No início, o discurso negacionista equiparava o presidente brasileiro aos ditadores da Bielorrússia e da Nicarágua, além do amigo Donald Trump.

Antes da pandemia, Trump era uma reeleição esperando para acontecer nos Estados Unidos. Perdeu a eleição não para Joe Biden, mas para si mesmo. E para o coronavírus. A disputa pela prefeitura de São Paulo virou uma espécie de referendo da atuação de Bruno Covas no gerenciamento da crise sanitária. O prefeito paulistano desponta nas pesquisas como líder isolado, à espera da definição do candidato que enfrentará no segundo turno.

Nos dois casos, o americano e o paulistano, Bolsonaro frequenta a cena do lado perdedor. Nos Estados Unidos, continua acorrentado às alucinações de Trump. Em São Paulo amarrou-se à candidatura de Celso Russomanno, que largou na frente e, a exemplo do que ocorreu em duas eleições passadas, corre o risco de ficar fora do segundo turno.

É cedo para dizer quais serão os efeitos da pandemia nas disputas eleitorais. Mas Bolsonaro deveria considerar a hipótese de trocar de tática. Os médicos recomendam Lavar as mãos para inibir a propagação do vírus, não para justificar a inação de governantes.