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Josias de Souza

Bolsonaro e Guedes vocalizam uma pauta tóxica

Colunista do UOL

11/11/2020 20h24

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O governo está zonzo. A tonteira, que já era aparente, foi escancarada nos comentários das duas principais autoridades do Executivo. Jair Bolsonaro e Paulo Guedes passaram as últimas horas acorrentados a uma agenda tóxica. O presidente festejou como triunfo pessoal o que imaginava ser o fiasco de uma vacina —"Mais uma que o Jair Bolsonaro ganha!"—; instou o brasileiro a enfrentar o coronavírus de peito aberto —"Tem que deixar de ser um país de maricas"—; e ameaçou recorrer às armas para proteger a Amazônia de Joe Biden —"Quando acabar a saliva, tem que ter pólvora".

O ministro da Economia declarou que, se não cuidar adequadamente da sua dívida pública mastodôntica, o país pode se reencontrar com o seu passado —o Brasil pode "ir para uma hiperinflação muito rápido"— e explicitou uma de suas angústias —"Estou bastante frustrado de estarmos aqui há dois anos e não termos conseguido vender nenhuma estatal. É bastante frustrante."

Enquanto decide se o Brasil é um país de maricas ou uma nação suficientemente viril para declarar guerra aos Estados Unidos, Bolsonaro deveria chamar Guedes para uma conversa. Como disse o ministro, o governo está na bica de completar dois anos. O único feito que conseguiu levar à vitrine —a reforma da Previdência— foi engolido pela pandemia. O coronavírus mastigou em menos de um ano a economia que a reforma previdenciária propiciaria em dez anos.

Aquele Bolsonaro moderado sumiu. A encenação entrou em cartaz quando Fabrício Queiroz foi preso. Durou seis meses. Agora, às voltas com a derrota do amigo Donald Trump e com a denúncia contra Flávio Bolsonaro no caso da rachadinha, o presidente reabriu a usina de crises. Guedes fala de uma hiperinflação que não está no horizonte do Banco Central e que lhe cabe evitar. Tenta terceirizar para o Congresso a culpa pelo seu insucesso. Demora a perceber que seu maior problema é o descompromisso do presidente com a agenda liberal.

Ou o governo se apruma nos próximos meses ou o projeto de reeleição estará comprometido. A fixação de Bolsonaro pela sexualidade dos brasileiros, seu amor hétero por Trump e a opção pela pólvora não resolvem o drama fiscal do estado nem criam empregos.