Arma-se para Bolsonaro uma grande turbulência
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Com as contas nacionais em desalinho, o governo cogita levar ao freezer o Renda Cidadã. Esse programa substituiria o auxílio emergencial a partir de janeiro. O congelamento da ideia fará pelo menos três vítimas: o pedaço mais pobre da sociedade, a popularidade de Jair Bolsonaro e a agenda liberal de Paulo Guedes.
Nas suas duas versões —de R$ 600 e R$ de 300— o vale corona vem ajudando 67 milhões de pessoas a encher a geladeira durante a pandemia. Essa gente deve ingressar no Ano Novo com o pé esquerdo, pois a última parcela do bolsa vírus será paga em dezembro.
Com o anabolizante social, a popularidade de Bolsonaro deu um salto, roçando os 40%. O capitão invadiu cidadelas pobres do petismo no Norte e no Nordeste. Ninguém se lembra de que o governo tentou limitar o socorro a R$ 200. Os congressistas aprenderam uma lição culinária: quem prepara o melhor bocado nem sempre o come.
Aliados de Bolsonaro estimam que, submetido a um desmame, o prestígio do presidente deve refluir. Nessa hipótese, seus pendores populistas, já bem aguçados, o impediriam de pegar em lanças pela agenda de reformas liberais de sua equipe econômica.
A inação tende a potencializar o desassossego de Paulo Guedes, que começa a destilar em público frustrações que só sussurrava em privado. Coisas assim: "Estou bastante frustrado de estarmos aqui há dois anos e não termos conseguido vender nenhuma estatal."
Num esforço para atenuar a aterrissagem dos beneficiários do auxílio emergencial no Brasil da ruína fiscal, o governo cogita engordar a clientela do Bolsa Família. Hoje, estão cadastradas no programa 14,2 milhões de famílias. Deseja-se incluir pelo menos mais 3 milhões.
Dá-se de barato que Bolsonaro viverá no ano pré-eleitoral de 2021 uma turbulência em que se misturam a orfandade de Trump, a popularidade na descendente, as reformas paralisadas e língua desgovernada. Não é uma combinação benfazeja.
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