Guedes e Bolsonaro operam em dois universos
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O governo opera em dois universos. Num, Paulo Guedes esclarece que a dívida pública já encosta em 100% do PIB, declara que o Plano A é diminuir o auxílio emergencial na proporção direta do descenso da pandemia. Encerrada a emergência, "voltamos para o Bolsa Família", disse o ministro da Economia. Havendo uma segunda onda de Covid-19, esclarece Guedes, volta o auxílio de emergência.
Operando num universo paralelo, Jair Bolsonaro festeja nas redes sociais o que supunha ser o fracasso de uma vacina —"Mais uma que o Jair Bolsonaro ganha!"— e convida o brasileiro a enfrentar o coronavírus de peito aberto —"Tem que deixar de ser um país de maricas". Num país convencional, ministro e presidente operariam em sintonia. Mas no Brasil de Bolsonaro, o presidente age como se estimulasse a nova onda de contágio com a qual o ministro, gestor de uma ruína fiscal, diz não contar.
A segunda onda do coronavírus varre países europeus e acende sinais de alerta nos Estados Unidos. Nada faz supor que o Brasil esteja imune ao flagelo. Surgem sinais preocupantes em São Paulo. Considerando-se que a pandemia já produziu mais de 163 mil cadáveres no país, o razoável seria que o presidente estimulasse a população a se precaver com os meios de que dispõe e se vacinar tão logo seja possível. Mas Bolsonaro trafega na contramão. Menospreza o vírus e propaga a liberdade de não se vacinar —ou o direito de infectar terceiros.
Quem olha de longe fica confuso ao perceber que Paulo Guedes e Jair Bolsonaro, as duas principais autoridades do Poder Executivo, falam coisas diferentes expressando-se na mesma língua. Fica-se a impressão de que, diante da pregação aloprada do presidente, o ministro soa lógico. Mas há sempre o risco de quem passa não conseguir distinguir quem é quem.
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