Capitão ignora racismo e ataca quem reage: 'lixo'
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Bem-aventurados os caolhos, porque só enxergam a metade. Jair Bolsonaro despejou nas redes sociais sete parágrafos sobre o caso do brasileiro negro que foi espancado até a morte por seguranças, nas dependências do Carrefour. Ignorou o morto João Alberto Silveira Freitas. Não prestou condolências à família. E chamou de "lixo" quem reagiu contra o ultraje.
Bolsonaro descarta a existência de conteúdo racista no crime. Avalia que o país tem de lidar com problemas que "vão além de questões raciais." Exemplificou: "O grande mal do país continua sendo a corrupção moral, política e econômica. Os que negam este fato ajudam a perpetuá-lo."
Quando o líder de uma organização familiar com a imagem bem rachadinha diz que não há no país mal maior do que a "corrupção", não resta senão silenciar. Não convém discutir com especialistas.
O presidente se recusa a diferenciar os brasileiros pelo grau de sofrimento que a realidade lhes inflige. Acredita que "problemas como o da violência são vivenciados por todos, de todas as formas..." Por mal dos pecados, dados colecionados pelo IBGE conspiram contra a tentativa de socializar o padecimento.
De acordo com a pesquisa "Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil", divulgada pelo IBGE em novembro do ano passado, a taxa de violência letal entre jovens pretos ou pardos de 15 a 29 anos foi de 98,5%, em 2017. Entre jovens brancos, o índice cai para 34%.
Bolsonaro bate palmas para a miscigenação que corre na veia do brasileiro. "Brancos, negros, pardos e índios compõem o corpo e o espírito de um povo rico e maravilhoso", escreveu.
O presidente receia que a cordialidade mestiça esteja sob risco. "Há quem queira destruí-la, e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre classes." Quem? Gente que "busca o poder."
Bolsonaro parece almejar o monopólio da cizânia. Desqualifica a concorrência que enxerga nos movimentos antirracismo: "Aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e promovendo conflitos, atentam não somente contra a nação, mas contra nossa própria história. Quem prega isso, está no lugar errado. Seu lugar é no lixo!"
É como se Bolsonaro atirasse contra sua própria imagem refletida no espelho. Faltou esclarecer em que aterro deve ser depositado um presidente que governa para um terço do eleitorado desde a posse, industrializa o ódio, divide a nação entre machos e maricas e é incapaz de se solidarizar adequadamente com a família de um brasileiro que foi moído na pancada por dois seguranças nas dependências de um supermercado.
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