Crime no Carrefour mudou de patamar na Bolsa
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A punição dos seguranças que moeram na pancada João Alberto da Silveira Freitas ainda deve demorar. Até lá, a investigação arrastará para o banco dos réus os cúmplices que estimularam o crime ou se omitiram diante dele. Executivos da rede gastarão baldes de saliva prometendo fazer por pressão o que não fizeram por opção. Mas o caso já mudou de patamar. O sangue escorreu até a Bolsa de Valores (pode me chamar de caixa registradora).
Nesta segunda-feira, dia em que o noticiário sobre vacinas infectou o mercado de otimismo, as ações ordinárias do Carrefour trafegaram na contramão. Lideraram as perdas. O papelório amargou queda de 5,35%.
O crime ocorreu na quinta-feira da semana passada. Na sexta, Dia da Consciência Negra, as imagens do brasileiro negro assassinado por seguranças brancos saltou das redes sociais para as manchetes, de onde não saíram desde então. As ações do Carrefour ainda fecharam em alta de 0,5%.
Após um final de semana de protestos, a sangria chegou à Bolsa. O movimento não foi negligenciável. Antes do tombo de 5,35%, as ações do Carrefour contabilizaram 10,5% de valorização no acumulado do mês, até sexta-feira.
Fornecedores da rede de supermercados esboçam uma reação. A Ambev, multinacional brasileira de bebidas, cobrou do Carrefour "medidas imediatas e efetivas".
É improvável que a desvalorização dos papeis do Carrefour se transformem numa hemorragia. Mas algo de inusual já aconteceu. Violência de conteúdo racial não é uma novidade no Brasil. Até aqui, porém, nenhuma aberração conseguia abalar o prestígio de logomarcas e de seus executivos.
Nenhuma atrocidade parecia justificar uma reprimenda pública, muito menos um prejuízo na Bolsa. Alguma coisa está mudando no Brasil. Nesse ritmo, Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão logo admitirão a existência de racismo no país.
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