Brasília vive a síndrome do auxílio emergencial
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Nas suas duas versões —primeiro de R$ 600, depois de R$ 300— o auxílio emergencial não socorreu apenas os brasileiros pobres submetidos aos rigores da pandemia. Tonificou a popularidade de Jair Bolsonaro. E ajudou partidos do centrão a extrair vitamina das urnas de 2020. Assim como os beneficiários do socorro, os políticos também ficaram viciados na emergência. Vivem a síndrome do que está por vir a partir da virada do ano, quando desembolso de emergência chega ao fim.
Forçados a ajustar a conveniência política à penúria fiscal, Paulo Guedes e sua equipe tratam Bolsonaro e alguns dos seus aliados no Congresso mais ou menos como o alcoólatra que precisa cercar a bebida com um sistema de alarmes contra si mesmo. O receio é o de que o presidente mande às favas o teto de gastos para engordar o Bolsa Família ou colocar em pé um programa de renda mínima para substituir o vale emergencial.
Não há dinheiro para aventuras populistas. Mas Paulo Guedes deu bom dia ao azar dias atrás quando declarou que, havendo uma segunda onda do coronavírus, a prorrogação do auxílio não seria uma possibilidade, mas "uma certeza". Desde então, o nível de contágio sobe. E o ministro da Economia corre atrás da própria língua, repetindo à exaustão que o vírus foi domado.
A conjuntura pede a restauração do equilíbrio fiscal. Isso depende da aprovação de reformas. Mas o Congresso dá de ombros para a lógica. Na prática, os parlamentares recebem sem trabalhar. A alegação de que estão em campanha é falaciosa. A eleição é municipal, não legislativa.
Ainda que fosse aceitável, a tese segundo a qual deputados e senadores precisam dar atenção às suas bases eleitorais perdeu o prazo de validade. A pandemia introduziu na rotina do Legislativo as sessões por videoconferência. Não deliberam porque não há interesse.
Em meio ao surto de irracionalidade, continuam circulando ideias como a de estender o Orçamento de Guerra até 2021. Ou lançar um novo programa social capaz de ladrilhar o caminho para as urnas de 2022. Simultaneamente, sobem os juros futuros. E o Tesouro Nacional rala para rolar a dívida pública. Como há males que vêm para pior, há o risco da segunda onda do vírus. O momento clama por juízo. Mas o juízo demora a aparecer.
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