Doria e Covas 'bolsonarizaram' a gestão do vírus
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Em política, como na vida, jamais se deve dizer uma mentira que não possa ser provada. Bruno Covas entrou no seu segundo mandato na prefeitura de São Paulo com o pé esquerdo. Deve explicações aos paulistanos que o reelegeram. Tornou-se, junto com o governador João Doria, personagem de uma versão sanitária de estelionato eleitoral.
Na noite de domingo, Covas discursou no diretório estadual do PSDB. Falando para uma aglomeração de correligionários e aliados, celebrou sua vitória nas urnas como uma evidência de que São Paulo rejeitou o negacionismo e prestigiou a ciência. O discurso foi aplaudido por militantes que, aglomerados num bar, acompanhavam a celebração por meio de um telão. A claque incluía jovens que, sem máscara, consumiam cerveja.
Horas depois, na manhã de segunda-feira, o governador Doria, que também discursou na festa da vitória tucana, reuniu a imprensa para informar que acabara de determinar um recuo na flexibilização das atividades comerciais em função do avanço do coronavírus.
Reduziu-se de 60% para 40% a ocupação de estabelecimentos como bares e academias, que só poderão funcionar até dez da noite. Eventos com pessoas em pé, como a celebração ornamentada com as presenças de Covas e Doria na véspera, foram proibidos.
Se Covas acreditava no que dizia quando pedia votos, deveria anunciar seu rompimento com Doria. A despeito das evidências de aumento da incidência da Covid-19 no estado e na capital, Covas atravessou a reta final da campanha declarando que a cidade de São Paulo vivia um "momento de estabilidade da pandemia". Negava peremptoriamente a hipótese de recuo para fases anteriores, com adoção de restrições sanitárias.
Doria soou ainda mais enfático. Chegou a chamar de fake news o burburinho sobre a hipótese de adotar medidas restritivas após a abertura das urnas. Na semana passada, cinco dias antes da eleição, a hipotética notícia falsa ganhou ares de verdade absoluta. O comitê de saúde que assessora o governo de São Paulo recomendou a adoção de providências para deter o avanço da Covid-19. Optou-se por empurrar as restrições com a barriga até o dia seguinte à eleição, como se o vírus respeitasse o calendário eleitoral.
Adotadas com atraso, as medidas ganharam a aparência de coisa insuficiente. Nos próximos dias, as estatísticas da pandemia exibirão os efeitos virais das aglomerações mais recentes, incluindo eventos de campanha e a celebração em que Covas e Doria discursaram para um diretório apinhado, observados à distância pela turma do telão, no bar. Críticos severos dos hábitos anti-sanitários de Jair Bolsonaro, os tucanos conseguiram bolsonarizar a gestão da pandemia em São Paulo.
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