Vacinar sem seringa é como guerrear sem fuzil
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Durante duas décadas de ditadura militar, nenhum dos generais-presidentes se animou a entregar o Ministério da Saúde a alguém que não fosse médico. Jair Bolsonaro colocou um militar no comando da pasta sob o pretexto de que a gestão da pandemia exigiria uma logística de guerra. Deu-se um pandemônio.
O general Eduardo Pazuello revelou-se um gestor fascinante. Mal comparando, toma decisões como um marceneiro que, para pregar um prego sem machucar o dedo, segura o martelo com as duas mãos. No melhor estilo "um manda e outro obedece", Pazuello é o martelo de Bolsonaro.
Intimado pelo Supremo a fixar uma data para o início da vacinação contra a Covid, a Saúde informou que a imunização começará em até cinco dias depois da liberação de uma vacina pela Anvisa. O compromisso tem tudo para se tornar uma versão sanitária de conversa fiada.
Ainda que o governo obtenha as vacinas, é grande o risco de não conseguir as seringas. Numa guerra convencional, seria o mesmo que descer ao campo de batalha com munição e sem fuzil. Deve-se o desacerto ao excesso de descaso.
O repórter Vinicius Sassine conta que o gabinete do general Pazuello dá de ombros há seis meses para um ofício do Ministério da Economia sobre a importação de seringas da China. A consulta dormita desde 23 de junho na gaveta do coronel Élcio Franco, o número Dois de Pazuello.
Cutucada uma segunda vez, a pasta da Saúde informa que responderá à equipe da Economia até 28 de dezembro. O governo estima que precisará de 300 milhões de seringas e agulhas. A indústria nacional não consegue atender à demanda do dia para a noite. No mercado internacional, a fila é grande.
Costuma-se dizer que as instituições funcionam adequadamente no Brasil. Se fosse verdade, o apagão no Ministério da Saúde já teria produzido um curto-circuito institucional. O coronavírus reforça a sensação de que o grande erro da evolução da humanidade é a incompetência não doer.
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