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Josias de Souza

Guerra da vacina é um conflito sem vencedores

Colunista do UOL

26/01/2021 23h19

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Um dia depois de o ministro Paulo Guedes ter reafirmado que o desempenho da economia brasileira depende da vacinação em massa, o Banco Central divulgou a ata da última reunião do Conselho de Política Monetária, o Copom. Nela, os diretores e o presidente do BC alertam para o risco de ocorrer o que chamaram de "reversão temporária" da retomada da economia brasileira. Atribuem o fenômeno a dois fatores: o fim do auxílio emergencial que o governo pagou aos brasileiros pobres até dezembro e a evolução da pandemia.

A exemplo do ministro da Economia, a cúpula do Banco Central também condiciona a retomada do crescimento à vacinação em massa. Integrantes da equipe econômica já dão de barato que o movimento de recuperação esboçado no final de 2020 será revertido no primeiro trimestre de 2021. Não é preciso ser especialista para perceber que os índices econômicos estão acorrentados ao coronavírus. Pesquisa Datafolha informa que 71% dos brasileiros —sete em cada dez— avaliam que a economia só vai melhorar depois que a vacinação for concluída.

Os infectologistas estimam que será necessário vacinar algo como 70% dos 212 milhões de brasileiros para que o país alcance a tão desejada imunização coletiva. Por enquanto, foram vacinados menos de 0,4% da população. Não é por falta de candidatos à vacina. De acordo com o Datafolha, 79% dos brasileiros —praticamente oito em cada dez patrícios— desejam ser vacinados. O problema é que as vacinas chegam em ritmo de conta-gotas.

Num ambiente assim, a guerra política em torno da vacinação é uma evidência de que os políticos não sofrem de insanidade. Eles se deliciam com ela. A maneira mais rápida de terminar uma guerra é perdê-la. A forma mais insensata de derrota é a rendição para um vírus. O surto de irracionalidade ocorre na antessala da sucessão presidencial. É uma ilusão imaginar que alguém pode sair vencedor de uma guerra política em que o eleitorado entra com a vida ou com o emprego. Se a vacinação invadir o ano eleitoral de 2022, o Brasil será o condomínio de uma ruína, na qual o cobiçado assento de presidente da República ganhará a aparência de uma cadeira elétrica.