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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Doria X Aécio expõe crise de identidade do PSDB

Colunista do UOL

09/02/2021 23h43

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Em política, é muito fácil identificar o traidor infiltrado na tropa, pois Cavalo de Troia não galopa. João Doria, o governador tucano de São Paulo, passou a enxergar o deputado Aécio Neves como uma espécie de cavalo de madeira em cuja barriga os adversários transportaram para dentro do ninho do PSDB na Câmara um presente de grego: a bolsonorização de parte da bancada. Doria acusa Aécio de aliciar votos tucanos para Arthur Lira, o líder do centrão que virou presidente da Câmara com o apoio de Jair Bolsonaro.

A troca de comando no Legislativo destravou as articulações para a sucessão presidencial de 2022. Em meio a um esforço para se firmar como principal opositor de Bolsonaro, Doria afirma ter obtido o aval de líderes do PSDB, entre eles Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra da legenda, para empurrar Aécio Neves rumo à porta de saída. Tenta diferenciar o PSDB do DEM, um potencial aliado que Bolsonaro conseguiu rachar.

Em agosto de 2019, quando Doria já desfilava como principal liderança do PSDB, a Executiva Nacional do partido votou um pedido de expulsão do multi-investigado Aécio Neves. A proposta foi rejeitada por 33 votos a três. Agora, os partidários de Aécio afirmam que, antes de olhar para outros estados, Doria deveria higienizar o tucanato de São Paulo —uma alusão ao derretimento moral de Geraldo Alckmin e José Serra.

Houve um tempo em que o PSDB se vangloriava até de sua divisão interna. Cada arranca-rabo para a escolha de um candidato ao Planalto era tratado como um marco civilizatório. Dizia-se que nenhuma outra legenda podia levar à vitrine presidenciáveis qualificados como Aécio, Alckmin e Serra.

Hoje, o tucanato mede não a qualificação dos seus pássaros, mas a quantidade de lama que cada um traz sobre a plumagem. Quando Doria defende a saída de Aécio e nada acontece, a única coisa que o governador consegue é expor a crise de identidade do PSDB. O partido já não é o que imaginava ser. E ainda não sabe o que será.