Topo

Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Carnavalização do vírus ignora a falta de vacinas

Colunista do UOL

17/02/2021 00h37

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Dois fenômenos conviveram no noticiário durante este Carnaval que a pandemia cancelou: a escassez de vacinas e o excesso de insensatez. Reunidos em aglomerações festivas, brasileiros patológicos carnavalizaram o vírus ao redor do país. Houve folia no Rio de Janeiro, em São Paulo, no litoral do Rio Grande do Sul, nas praias do Rio Grande do Norte, em toda parte. O país assistirá nas próximas duas semanas a uma espécie de quarta-feira de cinzas hipertrofiada.

Pessoas que viraram noites dançando, bebendo e se infectando contribuirão para tirar o sono de profissionais que molham o jaleco em hospitais cujas UTIs já operam em ritmo de pandemônio. O grande problema da realidade é que ela não deixa de existir porque as pessoas a ignoram. Nesta quarta-feira, depois de passar o feriado lidando com o drama sanitário de Manaus, o general Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, se reunirá com governadores inquietos com a perspectiva de interrupção da vacinação. As vacinas acabaram ou estão acabando. Resta a reserva para a segunda dose daqueles que conseguiram o grande feito de se imunizar.

Antecipando-se à pressão, a pasta da Saúde informa que sacramentou a compra de mais 54 milhões de doses da CoronaVac no Butantan. É algo que já estava previsto. Anuncia-se também a intenção de adquirir imunizantes da Rússia e da Índia. Em menos de uma semana, o compromisso assumido por Pazuello no Senado de vacinar metade dos brasileiros até o meio do ano virou mera profissão de fé.

Como se sabe, nenhum ser humano tem domínio sobre a vida e a morte. O nascimento é uma contingência. O funeral, uma fatalidade. Mas no meio de uma pandemia em que o vírus continua correndo na frente da vacina, a vida faz mais sentido quando conseguimos combinar a liberdade de fazer escolhas com a responsabilidade pelas escolhas que fazermos. Vale para todo mundo —do brasileiro que manteve a fantasia no armário ao presidente da República, que se divertiu em Santa Catarina durante o Carnaval.