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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Perda do mandato virou um sonho para Silveira

Colunista do UOL

19/02/2021 23h58

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Quando alguém reivindica liberdade, precisa saber o que fará com ela. Imaginando-se protegido pelo escudo da imunidade parlamentar, o deputado Daniel Silveira achou que seria uma boa ideia usar a liberdade de expressão que o regime democrático lhe proporciona para atacar a democracia. Tornou-se um parlamentar sui generis. Exerceu com máxima liberdade a prerrogativa de escolher o seu próprio caminho para o inferno.

Definida a situação prisional de Daniel Silveira, o deputado passará por dois fornos. Num, responderá no Conselho de Ética da Câmara a um pedido de cassação por falta de decoro parlamentar. Noutro, será julgado como réu em ação penal a ser aberta pelo Supremo Tribunal Federal a pedido da Procuradoria-Geral da República. O deputado falastrão logo perceberá que se meteu num enrosco que faz com que o seu pesadelo seja melhor do que o despertar.

No momento, a cassação do mandato na Câmara seria um grande negócio para Daniel Silveira, pois a denúncia formulada contra ele pela Procuradoria desceria para a primeira instância, sujeitando-se ao manancial de recursos protelatórios que o ordenamento jurídico brasileiro coloca à disposição dos réus. Conservando o título de deputado federal, o personagem será julgado no Supremo pelos ministros que ele disse em vídeo que gostaria de ver surrados nas ruas. Condenado na última instância do Judiciário, em decisão irrecorrível, o deputado se converterá automaticamente num político ficha suja. E será banido das urnas.

Ocorreu com Daniel Silveira algo muito comum em política. No início da semana, o deputado achava que era uma coisa. Descobriu em poucos dias que sua reputação já o havia transformado em outra coisa. Imaginava ser amigo de Jair Bolsonaro. E achava que o corporativismo do Congresso não permitiria que nada lhe acontecesse. Bolsonaro fingiu-se de morto. E os sacerdotes da corporação legislativa concluíram que não faria sentido acionar o espírito de corpo para defender um corpo estranho. De repente, nada tornou-se para Daniel Silveira uma palavra que ultrapassa tudo.