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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Guedes e Bolsonaro remam em direções opostas

Colunista do UOL

22/02/2021 21h01

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Passageiros da mesma canoa, Jair Bolsonaro e Paulo Guedes remam em direções opostas. O ministro da Economia gostaria de deixar como legado de sua passagem pelo governo o que chama de "marco fiscal" —um conjunto de reformas liberais capazes de estimular uma onda de investimentos privados. Algo que depende de uma palavra-chave: Confiança. A prioridade do presidente da República é resumida com outra palavra: reeleição.

A crise provocada pela intervenção que Bolsonaro realiza na Petrobras para substituir um nome de Guedes, Roberto Castello Branco, por um general da sua confiança, Joaquim Silva e Luna, compõe o pano de fundo da deterioração do relacionamento do presidente com seu principal ministro. O distanciamento entre os dois não surgiu de repente. A afinidade entre ambos, que nunca foi absoluta, diminui na proporção direta do aumento das pressões eleitorais.

Os governos costumam seguir uma regra não escrita que divide os mandatos em duas fases. Nos primeiros dois anos, o governante executa as medidas duras que precisam ser tomadas. Nessa etapa, o presidente atua como uma espécie de maestro de orquestra. De costas para a plateia, ele ajusta as contas públicas. Nos dois últimos anos do governo, o presidente se movimenta como um mestre de bateria de escola de samba, desfilando suas realizações pela Avenida —como quem pede aprovação e votos.

Sob Bolsonaro, os violinos da orquestra garantiam que, uma vez aprovadas as reformas de Guedes, a economia brasileira entraria num ciclo virtuoso de investimentos. No primeiro ano, sem pandemia, aprovou-se apenas a reforma da Previdência. Entregou-se um pibinho de 1,4%.

No segundo ano, com pandemia, as reformas empacaram. Nenhuma privatização saiu do papel. Nesse ambiente, a intervenção na Petrobras soa como bumbo desafinado de uma escola que não tem o que desfilar. Investidores que esperavam o Sol nascer para despejar dinheiro no Brasil trancam os cofres ou fogem para outras praças. O dinheiro foge do que não entende.