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Câmara foi do céu ao inferno em uma semana
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A Câmara foi do céu ao inferno em menos de uma semana. A instituição colecionou elogios em série por ter confirmado a ordem de prisão expedida pelo Supremo Tribunal Federal contra o deputado Daniel Silveira. O brasileiro imaginou que estivesse, finalmente, diante de um bom exemplo. Descobre agora que se tratava apenas de um tenebroso aviso. A mesma Câmara que decidiu que imunidade parlamentar não é escudo para criminosos vota a toque de caixa uma proposta que torna praticamente impossível a prisão de parlamentares em flagrante.
A iniciativa da Câmara é precipitada, absurda e desrespeitosa. A precipitação decorre do fato de que a proposta que reforça a blindagem dos deputados chegou ao plenário sem passar por nenhuma comissão. O absurdo fica evidente quando se percebe que o relógio foi adiantado para inibir o debate e camuflar a verdadeira intenção dos articuladores da proposta: transformar imunidade parlamentar em impunidade. O desrespeito é denunciado pela subversão de prioridades.
Num instante em que o país se exaspera com a escassez de vacinas, é ultrajante assistir ao esforço dos deputados para se autoconceder a plena imunidade. O brasileiro rala um cotidiano em que se misturam a pandemia, o desemprego e a pobreza. E Suas Excelências, supostos representantes do povo, atribuem prioridade à autoproteção.
Articulador da proposta, o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse que o objetivo não é blindar, mas "garantir que os parlamentares possam enfrentar interesses econômicos poderosos ou votar leis contra organizações criminosas perigosas, tendo a garantia de poder defender a sociedade e o povo sem sofrer retaliações." Lira é réu em dois processos que correm no Supremo. De duas, uma: ou o país vive uma crise semântica, em que tudo perdeu o significado, ou estamos numa roda de cínicos.
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