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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

País celebra recessão de 'apenas' 4,1% em 2020

Colunista do UOL

03/03/2021 20h15

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A crise está tão feia que o Brasil celebra uma recessão de 4,1% no ano de 2020 como um ótimo resultado. Em condições normais, um tombo dessa magnitude na atividade econômica seria motivo para pânico. Mas a pandemia alterou os parâmetros do desespero. Chegou-se a estimar que o PIB cairia até 10%. E a queda acabou sendo menor do que a recessão de 4,37% registrada em 1990, quando o então presidente Fernando Collor confiscou as contas dos brasileiros.

A despeito do alívio inusitado, não há razões para otimismo. Numa conjuntura em que o país contabiliza recordes de contagiados e de mortos na guerra contra a Covid, é preciso ser realista. Vale recordar uma frase do célebre economista e ex-ministro Mario Henrique Simonsen. Ele dizia que, em teoria econômica, o que não é óbvio é besteira. Infelizmente, muita gente ainda esbarra no óbvio, tropeça no óbvio e passa adiante sem desconfiar de que o óbvio é o óbvio.

Quem não quiser cometer o mesmo erro deve se concentrar em duas obviedades. A primeira é a seguinte: não haverá retomada consistente da atividade econômica sem uma vacinação em massa da sociedade brasileira. A segunda obviedade é que, enquanto as vacinas não chegam na quantidade desejável, não há outro remédio além da restrição da mobilidade urbana, com um distanciamento social que será maior ou menor dependendo do nível de lotação das UTIs. Estabelecidas essas premissas, resta à sociedade agir com responsabilidade e aos governantes adotar providências que atenuem o drama humano e econômico.

Estão incluídos nesse pacote a intensificação da compra de vacinas e o restabelecimento urgente de auxílios emergenciais às pessoas e às empresas. Esse tipo de medida foi essencial para atenuar a recessão no ano passado. A economia fecha o primeiro trimestre de 2021 no vermelho. Teme-se que a recessão perdure por todo o primeiro semestre desse ano.

Há no mercado financeiro quem aposte que, no fechamento do ano, o crescimento será superior a 3%. Num ambiente em que o vírus continua dando as cartas, esse tipo de previsão parece coisa de cartomante. Melhor manter os pés no chão. No momento, a esperança é a última que mata.