Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Ao afagar o apalpador, a Assembleia se condena
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
O pedido de cassação do mandato do deputado estadual Fernando Cury, que apalpou o seio da colega Isa Penna no plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo, percorre uma trilha que conduz à desmoralização. Na comissão de Ética da Assembleia, negociou-se uma pena leve: em vez da cassação, a suspensão do mandato por seis meses, com a convocação do suplente. Um absurdo.
Tramou-se na última hora um castigo ainda mais brando: suspensão por apenas quatro meses. Não será necessário nem chamar o suplente. O gabinete do acusado permanece intocado, com os servidores recebendo seus vencimentos como se nada tivesse acontecido. O cinismo prevaleceu por cinco votos a quatro. Um acinte.
A decisão do Conselho de Ética será levada ao plenário da Assembleia. A aprovação é tratada como jogo jogado. Um escárnio.
Vale a pena recordar o que está sendo julgado. O deputado Cury aproximou-se de Isa no plenário. Posicionou-se sorrateiramente atrás dela. Colou nela. Apalpou-lhe o seio. A cena foi filmada.
Autor do parecer vitorioso, o deputado Wellington Moura disse que um veredicto mais severo acabaria punindo também a família do apalpador. E fez uma analogia esdrúxula. Disse que seria um absurdo se a polícia, ao prender um homem que roubou comida num supermercado por extrema necessidade, prendesse também a família do ladrão.
A família de Curi não está sob julgamento. E comparar um seio desprevenido a um alimento qualquer exposto numa gôndola de supermercado é como submeter a vítima a uma segunda agressão.
O comportamento de Fernando Cury é tipificado como crime de importunação sexual. No papel, pode render cadeia de um a cinco anos. No legislativo paulista, resulta em algo muito parecido com a impunidade.
Ao contemporizar com o apalpador, a Assembleia Legislativa de São Paulo julga a si mesma, condenando-se à desmoralização perpétua.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.