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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Presença de Pacheco em comitê anticovid provoca constrangimento no Senado

Mateus Bonomi/Agif - Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo
Imagem: Mateus Bonomi/Agif - Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

01/04/2021 18h44

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Cresce no Senado o incômodo com a participação do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, no comitê anticovid criado por Bolsonaro. Avalia-se que o comportamento do presidente da República transformará a tentativa de coordenar a crise sanitária num processo de desmoralização do Legislativo.

O constrangimento aumentou nas últimas 24 horas. Na quarta-feira, após reunião do comitê, Bolsonaro voltou a condenar medidas que restringem a mobilidade das pessoas. Pregou a volta à "normalidade", o retorno "ao trabalho". Como Pacheco e o resto da humanidade compreendem que o isolamento social é incontornável para um país sem vacinas, o confronto tornou-se uma questão de tempo.

Pelo menos dois líderes partidários pretendem aconselhar Pacheco a tomar distância de Bolsonaro. Receiam que o senador comprometa a sua imagem. No limite, temem que o próprio Senado saia chamuscado, pois Pacheco assumiu as rédeas da negociação com governadores e prefeitos sem ter poderes para executar o que é negociado.

A coordenação de Pacheco é vista como uma gambiarra. Vários senadores sustentam que, sem prejuízo da participação do Legislativo, o diálogo com estados e municípios é tarefa do presidente da República. Coisa intransferível.

Nesta quinta, em videoconferência com prefeitos, o próprio Pacheco criticou os efeitos do negacionismo de Bolsonaro. Sem mencionar o nome do inquilino do Planalto, o chefe do Senado disse coisas assim: "Temos que reconhecer que o Brasil atrasou esse processo [de compra de vacinas], atrasou esse cronograma e estamos correndo atrás do tempo nesse momento."

Pacheco disse mais: "Não há nada pior, num momento como esse, do que a desarticulação, a falta de coordenação. E o Brasil revelou, infelizmente, a partir dessa falta de coordenação, algo que nós não podíamos ter feito. Desde o início, era preciso ter coordenado todos os entes federados para podermos enfrentar da melhor forma possível essa pandemia."

O processo de derretimento do arranjo que o próprio Pacheco chamava de "pacto" ou de "união nacional" é mais rápido do que todos supunham. O esforço se liquefaz apenas uma semana depois de ter sido deflagrado.