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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro apresenta uma recaída 'cloroquínica'

Colunista do UOL

05/04/2021 20h24

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A questão não é cometer erros. Todos cometem. O problema é insistir em velhos erros. Na administração da pandemia, Bolsonaro acorrentou-se a erros que começam a ficar cansativos. Um deles é a propagação da lenda segundo a qual medicamentos como a cloroquina servem para tratar precocemente os brasileiros infectados pelo coronavírus.

Discursando num evento organizado para entregar casas populares em Brasília, Bolsonaro anunciou que viajará nesta semana para a cidade catarinense de Chapecó. Nas palavras do presidente, o prefeito local, João Rodrigues, do PSD, realiza "um trabalho excepcional" no combate à covid. Falta definir "excepcional". A prefeitura de Chapecó notabiliza-se pelo estímulo daquilo que Bolsonaro chama de tratamento precoce, com medicamentos comprovadamente ineficazes.

Levantamento feito pelo jornal O Globo na Anvisa revela que dispararam no ano passado as notificações por efeitos adversos decorrentes do uso de medicamentos do "kit Covid". Pelo menos nove mortes foram notificadas desde março de 2020, mês em que a pandemia chegou ao Brasil. No caso da cloroquina, o aumento das notificações de efeitos indesejados foi de 558%.

Nas últimas semanas, Bolsonaro realizou movimentos tidos como promissores. Nomeou seu quarto ministro da Saúde, trocando um general por um médico cardiologista. E inaugurou um comitê de gerenciamento da crise sanitária, com a participação dos presidentes do Senado e da Câmara. Quando se imagina que está ajustando sua estratégia, ele volta a rodar em torno das mesmas idiossincrasias, como um parafuso espanado.

Se cloroquina fosse útil no tratamento da covid, Bolsonaro seria candidato a gênio da humanidade, não à reeleição para o Planalto. O que cansa em relação a Bolsonaro é que, com tantos erros novos a cometer, ele insista nos mesmos velhos erros.

E como se o presidente batesse com a cabeça na parede, na expectativa de que a qualquer momento a parede vai se transformar numa porta.