Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Queiroga não é Pazuello, mas também obedece
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O ministro da Saúde Marcelo Queiroga é cardiologista, não general. Mas, a exemplo do antecessor Eduardo Pazuello, o doutor também se submete às generalidades que compõem as superstições de Bolsonaro sobre o "tratamento precoce" do coronavírus. Nesta quarta-feira, Queiroga foi batizado com Cloroquina numa pajelança anticientífica realizada na cidade catarinense de Chapecó.
Com a pandemia a pino e as UTIs abarrotadas, Bolsonaro voou até Chapecó para celebrar o "trabalho excepcional" do prefeito amigo João Rodrigues (PSD) no combate à pandemia. A cidade ralou um aumento de 322% em mortes por covid em 2021. Em fevereiro, a prefeitura fechou comércio, bares e restaurantes. Adotou o toque de recolher. Transferiu pacientes para o Espírito Santo. Mas Bolsonaro não falou de medidas restritivas, Ao discursar, realçou as maravilhas do chamado tratamento precoce, com medicamentos ineficazes aos olhos da ciência. Entre eles a hidroxicloroquina.
Chamado a discursar, o cardiologista Queiroga despejou sobre o microfone palavras que soaram como uma rendição às crendices bolsonaristas: "O presidente recomendou: toda inovação que chegar, Queiroga, manda investigar, manda avaliar. Se funcionar, vamos colocar à disposição da nossa população, deixando de gerar calor desnecessário. Não queremos calor, queremos luz. Aqui em Chapecó, no estado de Santa Catarina, nós pudemos ter o exemplo de que é possível conciliar a autonomia do médico com a recuperação dos nossos pacientes."
A taxa de mortalidade por 100 mil habitantes no município de Chapecó é de 240,6. Está acima dos 160,3 registrados no Brasil. É maior do que os 161,2 anotados no estado de Santa Catarina. Os dados são oficiais. Estão disponíveis nos arquivos da pasta da Saúde, agora comandada pelo cardiologista Queiroga. O vírus não dá ouvidos a crendices. Ele mata.
Ao aceitar o convite de Bolsonaro para integrar a comitiva presidencial num tour cloroquínico, Marcelo Queiroga comportou-se como um médico que viaja num avião sabendo que toda a sua bagagem de conhecimentos científicos viaja em outra aeronave. A iniciativa pode ser um tributo que o doutor decidiu pagar à falta de lógica, para evitar que o presidente o expurgue do governo, como fez com o ortopedista Henrique Mandetta e o oncologista Nelson Teich.
A dúvida que paira no ar é a seguinte: o que é pior, um general sem formação médica que bate continência para as prescrições de um capitão ou um médico que se rende ao receituário de um presidente sem comprovação científica?
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