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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bolsonaro encara CPI como guerra e abre paiol

Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

14/04/2021 19h14

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Bolsonaro se equipa para enfrentar a CPI da Covid como quem vai para uma guerra. O presidente é arrastado para o campo de batalha a contragosto. E chega em franca desvantagem. A comissão que realizará a investigação legislativa terá 11 integrantes. Os nomes indicados apontam para um placar de 7 a 4 contra o Planalto.

Dá-se de barato no próprio governo que será impossível sair da CPI ileso. Tenta-se reduzir os danos e distribuir, tanto quanto possível, os ferimentos. A preocupação não é apenas quantitativa, mas qualitativa. Para o bem e para o mal, desceram à trincheira com a faca nos dentes alguns senadores duros de roer.

O Planalto guerreará na CPI com pesos-pesados que conhecem as mumunhas do Legislativo e do Executivo. Gente como Tasso Jereissati, Eduardo Braga e Renan Calheiros, que pode virar relator da comissão. Bolsonaro se escora na experiência de Ciro Nogueira, principal líder do centrão no Senado.

O presidente abriu o paiol. Usará toda a munição de que dispõe. Para jogar governadores e prefeitos no ventilador, o Planalto reúne dados sobre verbas enviadas a estados e municípios. Coleciona informações sobre desvios detectados pela Polícia Federal. Às voltas com a necessidade de realizar cortes no Orçamento da União para este ano, Bolsonaro cogita livrar da faca verbas destinadas a emendas de senadores.

A despeito do esforço, os operadores do Planalto sabem que nada livrará Bolsonaro do desgaste. Em matéria de pandemia, o presidente produziu muito material contra si mesmo: o dinheiro gasto em cloroquina, o desprezo à vacina que veio da China, a demora em comprar a vacina que fazia virar jacaré, a militarização do Ministério da Saúde...

Às voltas com a síndrome do que está por vir, Bolsonaro decidiu trocar o comando da Secretaria de Comunicação do governo, substituindo o almirante Flávio Rocha, oficial de paz, por alguém mais tarimbado para o confronto.

Os governistas ainda se esforçam para protelar a CPI. Utilizam um argumento que chega a ser anedótico. Alega-se que a pandemia impõe aos senadores o isolamento social. Quer dizer: enquanto o presidente ataca os governadores e pede a abertura de todas as atividades, seus aliados guerreiam no Senado para impor um lockdown à CPI. É improvável que cole.