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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Flávio Bolsonaro prega lockdown para CPI: "Por que não esperar a vacina"?

Colunista do UOL

27/04/2021 14h48Atualizada em 27/04/2021 18h07

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Durante toda a pandemia, Jair Bolsonaro criticou governadores e prefeitos por decretar medidas restritivas contra a covid. Declarou que "as Forças Armadas podem ir às ruas", para assegurar o direito de ir e vir do brasileiro. Surgiu, no entanto, uma atividade que a família presidencial gostaria de manter em regime de lockdown. O senador Flávio Bolsonaro, primogênito do presidente, tachou de "irresponsável" a abertura da CPI da Covid, "atropelando todos os protocolos, ignorando a questão sanitária." Defende o adiamento da investigação. "Por que não esperar todo mundo se vacinar, e fazer com responsabilidade esses trabalhos?"

Aderindo ao grupo que seu pai chama de "turma do fecha tudo", Flávio Bolsonaro atacou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, por permitir o início da CPI. "Está sendo irresponsável", declarou, na sessão inaugural da comissão parlamentar de inquérito. Para Jair Bolsonaro, o brasileiro precisa enfrentar o vírus de peito aberto, pois "todos vão morrer um dia". Mas o Zero Um revelou uma preocupação extremada com o bem-estar dos seus semelhantes.

Flávio prevê que, durante os trabalhos da CPI, pode ocorrer "a morte de senadores, morte de assessores, morte de funcionários dessa Casa em função da covid". Num esforço infrutífero para demonstrar despreocupação com a investigação, o primeiro-filho afirmou que "o governo acha importantíssimo passar a limpo tudo o que está acontecendo no Brasil, mas não agora."

A CPI ignorou todas as observações de Flávio Bolsonaro. Não só deu início às suas atividades como confirmou a escolha de uma cúpula distante do Planalto. Omar Aziz foi escolhido presidente por 8 votos a 3. Até o líder do centrão Ciro Nogueira, presidente do governista PP, votou em Aziz. Fez isso sabendo que o escolhido indicaria na sequência o amigo Renan Calheiros para o posto de relator da CPI.

O mesmo Renan que Flávio Bolsonaro classificara de "suspeito" por ser pai de um potencial investigado da CPI, o governador alagoano Renan Filho. No seu primeiro discurso, o relator da CPI avisou: "Nossa cruzada será contra a agenda da morte". Disse que eventuais culpados devem "ser punidos imediatamente e emblematicamente".

Antes, Flávio Bolsonaro dissera: "Aquele parlamentar que estiver nessa CPI e quiser subir nos caixões dos quase 400 mil mortos para fazer política rasteira e barata, para atacar o presidente Bolsonaro, o governo federal, e antecipar o palco de 2022, esse senador a população vai saber identificar, avaliar e julgar."

Começou o jogo. Vai durar pelo menos 90 dias. Mas pode ser prorrogado. Nada impede que a CPI invada o calendário de 2022.