Topo

Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Impeachment de Witzel convida eleitor a refletir

Colunista do UOL

30/04/2021 18h33

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O impeachment de Wilson Witzel, que estava afastado do governo do Rio de Janeiro por corrupção, consolida a reversão de um fenômeno. Aquilo que se convencionou chamar na campanha eleitoral de 2018 de "nova política" revelou-se apenas mais da mesma velha falta de compostura. Witzel teve uma queda tão meteórica quanto a sua ascensão. Juiz por 17 anos, virou governador na sua primeira eleição, com o apoio da família Bolsonaro. Planejava disputar a Presidência da República em 2022. Agora, com um incômodo passado pela frente, está mais próximo da cadeia do que do Planalto.

Witzel chegou ao poder estadual prometendo duas coisas: libertar o Rio da corrupção e acabar com a bandidagem. Descobriu-se que, a exemplo do que ocorria em governos anteriores, a criminalidade não estava apenas nos fundões dos morros cariocas. Os palácios Guanabara e Laranjeiras, sede da administração estadual e residência oficial do governador, continuaram sob o domínio do crime organizado. A moralidade de Witzel era de vidro. E se quebrou num assalto às verbas destinadas a combater a pandemia.

No Rio de Janeiro, considerando-se os escândalos já julgados e os que aguardam na fila por uma sentença, corruptos e denunciados servem principalmente como assunto de conversa. Quando se está numa rodinha entre amigos, é inútil mudar de assunto. Pode-se, no máximo, mudar de corrupto. Dos quatro antecessores de Witzel, três já passaram pela cadeia -Antony Garotinho, Rosinha Garotinho e Luiz Fernando Pezão— e outro, Sergio Cabral, continua em cana. Para complicar, Cláudio Castro, o vice que assumiu a poltrona de Witzel, também está sob investigação.

A roubalheira epidêmica é um convite ao desânimo. Mas é preciso levar em conta o seguinte: detentores de mandatos eletivos não surgem por geração espontânea. Eles nascem do voto. O eleitor do Rio deveria fazer uma introspecção. Se levar a experiência a sério, talvez enxergue no espelho a imagem de um culpado. Considerando-se que a autoproclamada "nova política" dá sinais de apodrecimento também em outros estados e em Brasília, o brasileiro tem duas alternativas: pode se manter exilado no conforto da sua omissão política ou pode se esforçar um pouco mais para dar algum sentido à democracia brasileira.

Fácil não é. Mas é preciso continuar tentando. O primeiro passo é o abandono da cômoda retórica de que os políticos "são todos iguais". Não são. A igualdade absoluta é uma impossibilidade genética. O excesso de roubalheira faz todos os gatunos parecerem pardos. Mas a magia de momentos como o que voltará a acontecer em 2022 é a possibilidade de redescobrir que, para os eleitos inconscientes, o eleitor impaciente continua sendo o melhor remédio.