Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Bolsonaro desiste de compor com Renan Calheiros e adota estratégia bélica
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Depois de recorrer ao governador alagoano Renan Filho e ao ex-presidente José Sarney para tentar estreitar sua inimizade com o senador Renan Calheiros, Bolsonaro desistiu de negociar um armistício com o relator da CPI da Covid. Concentrou no ministro palaciano Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral), um desafeto de Renan, a tarefa de coordenar a ação do governo na CPI.
O general Luiz Eduardo Ramos, chefe da Casa Civil, restringirá sua atuação à coleta de dados para municiar o pelotão do governo na CPI. Bolsonaro considera-se mal defendido pelos aliados. A seu pedido, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra, alistou-se na CPI. Embora seja filiado ao MDB, a legenda de Renan, Bezerra ocupará a vaga do senador Zequinha Marinho, suplente do PSC na comissão.
Integrantes do G7, o grupo majoritário na Comissão Parlamentar de Inquérito, ironizam a decisão de Bolsonaro de dar mão forte a Onyx. Avaliam que o ministro está mais próximo do banco de depoentes da CPI do que da coordenação da bancada governista. Recordam declarações do auxiliar de Bolsonaro contra o lockdown.
Onyx afirmou numa entrevista que é inútil recorrer ao isolamento social para refrear a propagação do coronavírus. Alheio à evidência de que se trata de um vírus respiratório, que depende da propagação de gotículas do nariz ou da boca para ser transmitido de uma pessoa infectada para outra saudável, o ministro desenvolveu uma tese pessoal e inusitada.
"Alguém consegue impedir que nas áreas urbanas o passarinho, o cão de rua, o gato, o rato, a pulga, a formiga, o inseto, que eles se locomovam?", indagou Onyx. "Alguém consegue fazer o lockdown dos insetos? É obvio que não. E todos eles transportam o vírus. Não são contaminados pelo vírus, mas podem transportar o vírus." O raciocínio, por risível, converteu Onyx num personagem sanitariamente anedótico.
Bolsonaro, entretanto, não está para brincadeira. Encontra-se sob influência do seu filho Zero Dois, Carlos Bolsonaro. Chamado pelo presidente de "meu Pitbull", o vereador carioca quer ver o sangue dos adversários do governo. Ele foi brindado pelo pai com uma menção, em discurso proferido numa solenidade sobre a tecnologia 5G, nesta quarta-feira.
O presidente referiu-se ao "gabinete do ódio", como ficou conhecido o núcleo de assessores do Planalto acusados de difundir ataques e notícias falsas nas redes sociais. Declarou que eles são "perseguidos" porque integram, na verdade, "o gabinete da liberdade." Citou Tercio Arnaud Tomaz e José Matheus Sales Gomes. Ambos são mencionados no inquérito sobre fake news que tramita no Supremo Tribunal Federal. Renan cogita requisitar a papelada.
"O meu marqueteiro não ganhou milhões de dólares fora do Brasil", disse Bolsonaro a certa altura, referindo-se ao filho, também enrolado no inquérito do Supremo. "O meu marqueteiro é um simples vereador, Carlos Bolsonaro, lá no Rio de Janeiro. É o Tércio Arnaud, que trabalha comigo. É o Matheus. São pessoas perseguidas o tempo todo como se tivessem inventado um gabinete do ódio. Não tem do que nos acusar. É o gabinete da liberdade, da responsabilidade."
Citado pelo ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta no seu depoimento na CPI como um frequentador das reuniões privadas ocorridas no Planalto, Carlos Bolsonaro entrou no raio de tiro da comissão. Cogita-se convocá-lo. Em privado, Bolsonaro afirma que os senadores brincam com fogo.
Atribui-se ao Zero Dois a escalada retórica de Bolsonaro. Ele voltou a brandir a ameaça de baixar um decreto para religar as fornalhas da economia, reativando negócios fechados pelos governadores por precaução sanitária. Reafirmou a insinuação de que o coronavírus pode ter sido criado pela China numa guerra biológica. E chamou de "canalhas" os críticos do tratamento precoce com um kit-covid que inclui a cloroquina, ineficaz no tratamento contra a covid.
Como de hábito, Bolsonaro opera como se considerasse que a melhor maneira de resolver uma crise é criando uma outra crise, ainda maior.
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