Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Mudou de patamar a reação de Pequim à sinofobia do governo Bolsonaro
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As metamorfoses fazem parte da política. Mas as transmutações do governo Bolsonaro no relacionamento com a China convertem esperteza em estupidez. Para animar sua milícia virtual nas redes sociais, Bolsonaro insinua que o coronavírus é uma arma criada em laboratório chinês como parte de uma "guerra bacteriológica". Apenas 48 horas depois de o capitão fazer pose de fortão, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga e o chanceler Carlos França visitam o embaixador da China Yang Wanming para expor a fragilidade do Brasil, mendigando a liberação de insumos para a fabricação de vacinas.
O governo Bolsonaro ainda não percebeu. Mas a reação da China à sinofobia do presidente brasileiro mudou de patamar. Dessa vez, a resposta à ofensa do capitão não soou na embaixada chinesa em Brasília, mas em Pequim. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, declarou que o "vírus é o inimigo comum da humanidade." Disse que "a tarefa urgente de agora é todos os países se juntarem em uma cooperação anti-epidemia." E condenou a "tentativa de politizar e estigmatizar o vírus."
Em depoimento à CPI da Covid, Queiroga minimizou os efeitos da declaração tóxica de Bolsonaro. Ele informou aos membros da comissão que visitaria o embaixador chinês na companhia do chanceler França. "Vamos continuar trabalhando para manter as boas relações que o Brasil tem com a China", ele disse. O senador petista Humberto Costa ironizou: "Imagino que ajudou muito a fala do presidente. E o senhor vai chegar amanhã na Embaixada da China e vai ser recebido de braços abertos."
A China não cogita romper os contratos que preveem o fornecimento de insumos para as vacinas contra a Covid. Mas o atraso no fornecimento da matéria-prima da CoronaVac para o Instituto Butantan demonstra que a coisa poderia caminhar mais rápido se Bolsonaro compreendesse que a diplomacia traz no nome a essência da atividade. Para funcionar, precisa ser macia. Com uma pandemia a pino, a pose de valentão de Bolsonaro serve apenas como oportunidade para que a China demonstre ao gênio do Planalto que a diferença entre a genialidade e a estupidez é que a genialidade tem limites.
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