Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
CPI evolui para a escassez de vacinas e comunicação falha sobre a pandemia
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A CPI da Covid mudará de assunto nesta segunda semana de depoimentos. Sai de cena o que Bolsonaro chamou de "xaropada" sobre a cloroquina. Entram em cartaz dois temas com potencial para deixar o linguajar do presidente ainda mais encrespado: a escassez de vacinas e a precariedade da comunicação governamental sobre a pandemia.
Os personagem centrais da semana serão o ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, a ser inquirido na quarta-feira; e dois executivos da Pfizer —a presidente da empresa no Brasil, Marta Díez, e o ex-presidente Carlos Murillo—, que serão interrogados na quinta. Nesta terça-feira, será ouvido o presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres.
Wajngarten disse em entrevista que o governo demorou a comprar vacinas da Pfizer por "incompetência" e "ineficiência" do Ministério da Saúde na gestão do general Eduardo Pazuello. Ele contou que soube em setembro do ano passado que a Pfizer enviara carta à pasta da Saúde oferecendo 70 milhões de doses da sua vacina. Algo que permitiria ao governo iniciar a vacinação em dezembro.
Pazuello e sua equipe refugaram a oferta, disse Wajngarten, que passou a negociar com a farmacêutica. Nessa versão, o então secretário de Comunicação levou o caso ao conhecimento de Bolsonaro, que o autorizou a agir. Reuniu-se com a cúpula da Pfizer. Discutiu detalhes do contrato. Obteve desconto no preço e compromisso de antecipação na entrega dos primeiros lotes da vacina. Ainda assim, o negócio não prosperou.
O primeiro grande mistério a ser esclarecido é por que o chefe do setor de Comunicação da Presidência, alheio à pasta da Saúde, meteu-se numa negociação sobre vacinas. Os executivos da Pfizer podem ajudar a elucidar esse ponto. O segundo aspecto a esclarecer é o porquê de Wajngarten poupar Bolsonaro no seu relato.
Na fase em que se esmerou na produção de provas contra si mesmo, o presidente praguejou inúmeras vezes a vacina da Pfizer. Questionou as cláusulas draconianas do contrato. Disse que o governo não compraria uma vacina que poderia transformar os vacinados em jacarés. Só em março, quando os brasileiros já morriam de falta de vacinas, não de Covid, o governo adquiriu 100 milhões de doses do imunizante da Pfizer. Tenta agora comprar mais 100 milhões, a preços mais salgados.
Os senadores pretendem inquirir Wajngarten também sobre o que deixou de fazer na área que estava sob seus cuidados: a Comunicação Social. Além de negligenciar a orientação da sociedade sobre medidas de proteção sanitária, o governo tentou lançar uma campanha de conteúdo anticientífico. Chamava-se "O Brasil Não Pode Parar".
Um vídeo preliminar chegou a circular nas redes sociais. Alinhada com o discurso de Bolsonaro, a peça continha recomendações contrárias às medidas restritivas decretadas por governadores e prefeitos. A iniciativa foi abortada por ordem do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal.
Relator de uma ação movida pelo partido Rede, Barroso proibiu "a produção e circulação, por qualquer meio, de qualquer campanha que pregue que 'O Brasil Não Pode Parar' ou que sugira que a população deve retornar às suas atividades plenas, ou, ainda, que expresse que a pandemia constitui evento de diminuta gravidade para a saúde e a vida da população."
O G7, grupo majoritário da CPI, se equipa também para perscrutar mensagens de desinformação disparadas nas redes sociais por assessores do Planalto. Chamam-se Tércio Arnaud Thomaz, Matheus Matos Diniz e José Matheus Sales Gomes. Operam no chamado "gabinete do ódio", sob orientação de Carlos Bolsonaro, o filho Zero Dois do presidente. São investigados pelo Supremo no inquérito que apura a difusão de notícias falsas.
Ao pressentir o interesse da CPI, Bolsonaro se referiu ao grupo na semana passada. Disse que os assessores e o filho são "perseguidos" porque integram, na verdade, "o gabinete da liberdade."
"O meu marqueteiro não ganhou milhões de dólares fora do Brasil", disse o presidente. "O meu marqueteiro é um simples vereador, Carlos Bolsonaro, lá no Rio de Janeiro. É o Tércio Arnaud, que trabalha comigo. É o Matheus. São pessoas perseguidas o tempo todo como se tivessem inventado um gabinete do ódio. Não tem do que nos acusar. É o gabinete da liberdade, da responsabilidade."
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