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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bolsonaro trata general Pazuello como um deputado fisiológico do centrão

Pazuello discursa ao lado de Bolsonaro em ato no Rio - Reprodução
Pazuello discursa ao lado de Bolsonaro em ato no Rio Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

01/06/2021 18h34

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De cadete a capitão, Bolsonaro vestiu farda do Exército por 14 dos seus 66 anos de vida. Foi expurgado da carreira militar por indisciplina. Amargou 15 dias de cadeia. Depois de três décadas de vida parlamentar, Bolsonaro saltou do baixo clero do Congresso para o Planalto. Como presidente da República, tornou-se chefe supremo das Forças Armadas. Já declarou que nasceu para "ser militar". Mas opera como se desejasse inocular nos quarteis os piores vícios da política. Decidiu tratar o general Eduardo Pazuello como um deputado fisiológico do centrão.

Depois de blindar Bolsonaro num depoimento à CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde ganhou de presente um cargo na Secretaria de Assuntos Estratégicos. Será secretário de Estudos Estratégicos. Enganchará ao seu contracheque de general um salário de quase R$ 17 mil. Ficará abaixo do almirante Flávio Rocha, que responde diretamente a Bolsonaro. Essa versão fardada de toma lá, dá cá ocorre num instante em que Pazuello responde a processo disciplinar do Exército e aguarda na fila de depoentes da CPI pelo agendamento de sua reinquirição.

O drama de Pazuello é 100% feito de Bolsonaro. A CPI reconvocou o general para confrontá-lo com as inverdades que teve de pronunciar para preservar o presidente. O Exército abriu processo contra ele por ter participado de ato político ao lado de Bolsonaro no Rio de Janeiro. Algo que é vedado para os militares. Escorando-se em versão construída por Bolsonaro, Pazuello foge da punição alegando que o comício de que participou não era um evento político, pois o presidente não está filiado a nenhum partido.

Ao abrigar o general numa trincheira do Planalto, Bolsonaro constrange o Exército, que demora a definir a punição de Pazuello —pode variar de mera advertência a prisão. O vice-presidente Hamilton Mourão explicou o que está em jogo quando defendeu o enquadramento de Pazuello. O general Mourão declarou que a punição é necessária para evitar que "a anarquia se instaure" nos quartéis.

Mourão sabe o que diz. Quando estava na ativa, perdeu o prestigioso comando do Sul por fazer declarações políticas. Reconheceu que falara demais. E resignou-se diante da punição: "Cada um tem que saber o tamanho da sua cadeira." Ao acomodar Pazuello no seu colo, Bolsonaro coloca o trono presidencial no jogo. É como se intimasse o Exército a se comportar como partido do governo.