Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Relação de Queiroga e Bolsonaro oscila entre o maníaco e o depressivo
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A segunda passagem de Marcelo Queiroga pela CPI da Covid mostrou que, sob Bolsonaro, o Ministério da Saúde continua sendo uma espécie de centro terapêutico para tratar o presidente de suas loucuras. A diferença é que o cardiologista Queiroga revela uma disposição para atuar como terapeuta presidencial que seus antecessores médicos não tiveram. O ortopedista Henrique Mandetta e o oncologista Nelson Teich preferiam dar alta a si mesmos.
Queiroga trava com Bolsonaro um relacionamento patológico. O ministro reconheceu na CPI que a cloroquina não tem eficácia no tratamento da covid. Mas declarou que não cogita retirar do site do Ministério da Saúde a nota técnica que recomenda o remédio predileto de Bolsonaro. Reiterou a importância de procedimentos não farmacológicos. Mas disse que não é censor do presidente, avesso à máscara e entusiasta das aglomerações.
O ministro assegurou ter decidido por conta própria desnomear a ex-quase-futura-secretária Luana Araújo, avessa à cloroquina. E jurou que não recebeu nenhuma ordem do Planalto para manter em sua equipe a doutora Mayra Pinheiro, apelidada de capitã cloroquina.
O depoente disse desconhecer a existência de um gabinete paralelo ao Ministério da Saúde. Entretanto, reconheceu ter conversado com estrelas da equipe das sombras. Recebeu o vereador federal Carlos Bolsonaro, o deputado negacionista Osmar Terra, o empresário Carlos Wizard... Informou ter recebido da oncologista Nise Yamaguchi um estudo sobre o uso da cloroquina em Cuba.
Queiroga traz no lugar da língua uma fita métrica. Para não cutucar os fantasmas interiores de Bolsonaro, mede cada palavra. De vez em quando, solta um elogio: "A maior oportunidade da minha vida quem me deu foi o presidente Bolsonaro." O médico sabe que tudo perturba e irrita Bolsonaro. O sucesso dos subordinados o perturba. A ciência o irrita.
O doutor ainda não percebeu, mas virou o mais novo paciente da manicômiocracia em que se converteu a gestão Bolsonaro. Se o presidente é maníaco, o ministro que o atura condena-se a ser depressivo. A questão agora é saber por quanto tempo o quarto ministro da Saúde da pandemia suportará permanecer no divã.
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