Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Wilson Witzel usa CPI como palco de enganação
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Wilson Witzel dançou com os senadores da CPI da Covid a coreografia da enganação. Cassado por corrupção, o ex-governador do Rio usou a comissão como palco para encenar o negacionismo do crime que o derrubou: o assalto às verbas da saúde em plena pandemia.
O "depoente" fez pose de vítima de "perseguição política". Lançou sobre a cabeça do presidente da República quase todas as bolas que o relator Renan Calheiros levantou para ele cortar. Bateu boca com o ex-cabo eleitoral Flávio Bolsonaro.
Quando os senadores da bancada governista da cloroquina começaram a hostilizá-lo, Witzel sacou o habeas corpus do Supremo que tornara sua presença na CPI facultativa. E tomou o rumo da porta de saída.
Muito cedo, logo na exposição inicial, Witzel deixou claro que é muito tarde para levá-lo a sério. Referiu-se ao seu impeachment como "vergonha internacional". Falou sobre si mesmo como uma terceira pessoa de respeitabilidade planetária. "As pessoas lá fora sabem quem é o governador Wilson Witzel."
Não disse nada de verdadeiramente aproveitável para os rumos da investigação parlamentar. Deu obviedades em cacho aos senadores do mesmo modo que a bananeira dá bananas. Referiu-se, por exemplo, ao negacionismo científico do presidente e sua hostilidade no trato com os governadores.
Sustentou que foi "praticamente zero" a cooperação do Ministério da Saúde para o combate à pandemia. "O presidente deixou os governadores à mercê da desgraça que viria", disse, abstendo-se de dimensionar as verbas federais que recebeu como governador.
Sabe-se que Witzel caiu em desgraça junto a Bolsonaro depois que admitiu, no ano passado, que gostaria de concorrer ao Planalto. Mas o governador afastado alega que passou a sofrer retaliações federais depois que Bolsonaro lhe atribuiu uma falsa intervenção na investigação sobre o assassinato de Marielle Franco.
"Tudo começou porque mandei investigar sem parcialidade o caso Marielle", disse Witzel, que hostilizou a vereadora assassinada na campanha eleitoral e não priorizou a elucidação do crime enquanto foi governador.
Ao escorar seus ataques no túmulo de Marielle, Witzel insinuou que tem algo a dizer sobre o relacionamento dos Bolsonaro com milicianos do Rio. Mas condicionou a revelação das "coisas graves" que teria a dizer à realização de uma sessão secreta.
Ainda que a promessa de Witzel fosse verdadeira, caberia indagar: o que a morte de Marielle tem a ver com a pandemia, objeto da investigação parlamentar? Nada, eis a resposta. Mas a CPI mordeu a isca.
Randolfe Rodrigues, vice-presidente da comissão, anunciou a intenção de requerer a oitiva secreta de Witzel. O grupo majoritário da CPI, o G7, decidiu que seria melhor enviar uma delegação para ouvir o ex-governador, evitando armar mais um palco no Senado, dessa vez secreto.
Se a presença de Witzel na CPI teve alguma serventia foi para lembrar ao país que fim levou a autoproclamada nova política. Pouco antes de assumir o governo do Rio, o ex-juiz disse que seria implacável com a corrupção e com a bandidagem. Disse a célebre frase: "A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e... fogo! Para não ter erro."
Antes de completar dois anos no poder, Witzel demonstrou que a criminalidade no Rio não seria uma exclusividade do submundo dos morros. O Ministério Público, a Polícia Federal, o Superior Tribunal de Justiça e a corte mista do impeachment esclareceram que os palácios Laranjeiras e Guanabara continuavam sob o domínio de uma organização criminosa.
E a família Bolsonaro finge que não tem nada a ver com Witzel. Ironicamente, deve-se à obsessão do Planalto em jogar os estados no ventilador da CPI a montagem do palco em que se realizou o strip-tease da virtude.
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