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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Acumulam-se os indícios de interferência na PF

Colunista do UOL

22/06/2021 22h53

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Coisas esquisitas sucedem na Polícia Federal. A penúltima esquisitice foi o afastamento do delegado Franco Perazzoni da chefia da Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros do Distrito Federal. Perazzoni perdeu o cargo menos de um mês depois de chefiar a batida policial em endereços do ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente.

Essa operação, ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ocorre no âmbito de um inquérito em que Salles é suspeito de favorecer madeireiras em exportações ilegais para os Estados Unidos.

Não foi o primeiro caso. O delegado Alexandre Saraiva já havia sido destronado da chefia da Superintendência da Polícia Federal no Amazonas depois de protocolar no Supremo uma notícia-crime que deu origem à abertura de outro inquérito contra o mesmo ministro Ricardo Salles.

Nesse processo, o titular do Meio Ambiente é acusado de dificultar fiscalizações ambientais e exercer advocacia administrativa em favor de desmatadores. Gente pilhada na maior extração ilegal de madeira de todos os tempos. Coisa de 200 mil metros cúbicos de toras. Mercadoria estimada em R$ 129 milhões.

Há mais. A delegada Denisse Dias Rosas Ribeiro foi retirada da investigação sobre atos antidemocráticos apenas 14 dias depois de pedir ao Supremo autorização para realizar uma operação de busca e apreensão na Secretaria de Comunicação da Presidência da República, em endereços do ex-chefe da Secom Fábio Wajngarten e num canal bolsonarista no Youtube. São indícios de interferência política na Polícia Federal.

Simultaneamente, o Supremo trava o andamento do inquérito em que Bolsonaro é acusado de intervir na PF. Aberto quando o ex-ministro Sergio Moro deixou o Ministério da Justiça chutando a porta, o processo está paralisado desde setembro do ano passado, à espera de que o plenário do Supremo defina se Bolsonaro deve ser interrogado pela PF por escrito ou presencialmente.

A suspeita contra o presidente nasceu na reunião ministerial de 22 de abril do ano passado. Nela, Bolsonaro foi filmado dizendo que não esperaria que sua família ou seus amigos fossem prejudicados para agir. A pressa do presidente contrasta com a letargia do Supremo.