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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Saída de Salles não altera política antiambiental

Colunista do UOL

23/06/2021 18h55

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Ricardo Salles não pediu demissão. Deixou a poltrona de ministro do Meio Ambiente após ser convencido, em conversa com Bolsonaro, que sua saída convém a ambas as partes. É convenciente para Bolsonaro porque a manutenção de Salles no primeiro escalão do governo dava ao presidente uma aparência de cúmplice num instante em que ele precisa reagir às acusações de irregularidades na aquisição da vacina Covaxin, da Índia.

Serve aos interesses de Salles porque os inquéritos que expõem os seus calcanhares de vidro descerão do Supremo Tribunal Federal para a primeira instância do Judiciário, aumentando a margem de manobra de um investigado que precisa de recursos protelatórios para continuar respirando.

Caiu o ministro, não a sua política antiambiental. Ricardo Salles era um peão aplicado, um tocador de rebanho. Quem gerencia a boiada, definindo os bois que devem pular a cerca no setor ambiental, é Bolsonaro.

Aconselhado por auxiliares e aliados no Congresso a nomear um ministro do Meio Ambiente que tivesse o selo verde, o presidente preferiu acomodar no cargo um auxiliar do próprio Ricardo Salles, Joaquim Álvaro Pereira Leite, ligado aos ruralistas. Ele chefiava a Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais da pasta. Participou do desmonte dos órgãos de controle ambiental.

Durante sua gestão, Ricardo Salles construiu a imagem de um ministro contra o Meio Ambiente. Nos dois inquéritos que correm contra ele no Supremo, o agora ex-ministro é acusado de manter relações promíscuas com madeireiros que operam na ilegalidade. É uma pena que Bolsonaro não aproveite a saída de Salles para reposicionar o governo na área ambiental.

Contra todas as evidências, o presidente costuma dizer que não há problema ambiental no Brasil. O que há, na visão de Bolsonaro, é um complô do Inpe com ONGs, mancomunadas com uma imprensa impatriótica e com os governos de países como Noruega e Alemanha, que escondiam segundas intenções atrás de doações bilionárias para programas ambientais que seu governo interrompeu.

Sem mencionar os chefes de estado estrangeiros, como o americano Joe Biden, que tramam contra a soberania do Brasil na Amazônia. Não há o menor risco de um enredo assim produzir algo de útil. Ao contrário, a estratégia do presidente afugenta investidores estrangeiros e prejudica o agronegócio brasileiro nas suas transações internacionais.