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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Barragem erguida por Aras para proteger Bolsonaro está repleta de fendas

Reuters
Imagem: Reuters

Colunista do UOL

02/07/2021 19h00

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Brasília testemunhou três movimentos que revelam a existência de um fenômeno novo. Num, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, forçou a Procuradoria-Geral da República a abrir inquérito para apurar se Bolsonaro cometeu crime de prevaricação ao retardar investigações sobre irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin.

Noutro, o ministro Alexandre de Moraes driblou a PGR ao arquivar o inquérito sobre atos antidemocráticos para, em seguida, abrir um inquérito análogo estalando de novo. Manteve-se a Polícia Federal no encalço do pedaço do bolsonarismo que percorre as redes sociais destilando ódio e desafiando a ordem democrática.

Num terceiro movimento, procuradores da República que atuam na primeira instância protocolaram ação por improbidade administrativa contra o general Eduardo Pazuello. Pedem à Justiça Federal que condene Pazuello a ressarcir ao erário prejuízos de R$ 122 milhões produzidos pelos erros de sua gestão anticientífica na Saúde. Fizeram o que Aras não fez quando o general era ministro e dispunha do foro do Supremo.

Juntos, esses três movimentos revelam um fenômeno com o qual Bolsonaro não contava: a fenda. A barragem erguida por Augusto Aras para evitar que o governo se afogue em investigações está repleta de fendas.

No processo sobre a vacina Covaxin, o vice-procurador-geral Humberto Jacques de Medeiros, preposto de Aras para as causas criminais, tentou convencer Rosa Weber a aguardar pelo fim da CPI da Covid. A ministra respondeu que o "papel de espectador" não está entre as atribuições da Procuradoria.

No caso dos atos antidemocráticos, Alexandre de Moraes manteve na alça de mira da PF parlamentares bolsonaristas e os filhos do presidente: Flávio, Carlos e Eduardo. Na ação contra Pazuello, os procuradores apresentaram ao general a conta pela subserviência exercida na base do "um manda e outro obedece."

É como se Rosa Weber, Alexandre de Moraes e os colegas de Augusto Aras se juntassem para informar ao procurador-geral que não gosta de procurar o seguinte: na administração do Estado, aqueles que inventam pretextos para que alguma coisa não seja feita acabam sendo desmoralizados por alguém que está fazendo a coisa.

Aras e sua equipe transformaram a blindagem de Bolsonaro num processo de desmoralização do Ministério Público Federal. Esqueceram de maneirar. Desmoralizam-se junto com a instituição.