Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Bolsonaro conspira contra seu próprio mandato
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A perspectiva de fracasso subiu à cabeça de Bolsonaro. O presidente conspira a favor do próprio impeachment. Atravessou a semana ameaçando a democracia, xingando autoridades de outros Poderes e desafiando a lógica.
Disse e reafirmou que não aceitará o resultado das eleições de 2022 se perder a disputa no atual sistema de urnas eletrônicas. Declarou várias vezes que, sem o voto impresso, não haverá eleições no ano que vem.
Ao perceber que o presidente da República tenta enquadrar o país na sua moldura de desespero e desequilíbrio, os outros Poderes decidiram, finalmente, reagir.
Presidente do Senado e do Congresso Nacional, o senador Rodrigo Pacheco disse que "será apontado pelo povo brasileiro e pela história como inimigo da nação" qualquer um que queira o "retrocesso ao Estado democrático de Direito." Afirmou que cabe ao Legislativo decidir se haverá ou não voto impresso.
Chamado de "imbecil" e "idiota" por Bolsonaro, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luís Roberto Barroso, declarou que a tentativa de barrar a eleição configura "crime de responsabilidade." Pacheco e Barroso defenderam a confiabilidade das urnas atacadas por Bolsonaro.
Depois de perder a pose e as ruas, Bolsonaro perdeu o pouco que lhe restava de discurso quando a CPI da Covid migrou da investigação do negacionismo para a apuração de corrupção no Ministério da Saúde. Tornou-se um governante sem juízo e sem rumo.
Arthur Lira, presidente da Câmara, e Augusto Aras, procurador-geral da República, mantêm a disposição de blindar o mandato de Bolsonaro contra o avanço de processos por crime de responsabilidade ou por crime comum. Mas ainda não inventaram blindagem para a falta de juízo.
Onze partidos políticos, incluindo legendas que apoiam o governo, anunciaram a intenção de votar contra a proposta que prevê a impressão do voto. Parece óbvio que, juntas, as manifestações desses partidos e as reações de autoridades do Legislativo e do Judiciário soam como uma espécie de "basta" para Bolsonaro.
Mas o presidente esbarra no óbvio, tropeça no óbvio e continua flertando com a insensatez, sem desconfiar de que o óbvio é o óbvio. É como se Bolsonaro pedisse para ser impedido.
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