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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bolsonaro ruge como leão para a CPI, mas mia como gatinho para Luis Miranda

Da esquerda para a direita: Luis Carlos Miranda, Ricardo Barros, Jair Bolsonaro e Luis Ricardo Miranda - Agência Senado | Reuters | Câmara dos Deputados
Da esquerda para a direita: Luis Carlos Miranda, Ricardo Barros, Jair Bolsonaro e Luis Ricardo Miranda Imagem: Agência Senado | Reuters | Câmara dos Deputados

Colunista do UOL

11/07/2021 06h16

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Nada é mais divertido do que observar Bolsonaro medindo cada meia palavra que diz, quando é instado a comentar a reunião que teve em 20 de março com o deputado Luis Miranda e o irmão dele, o servidor da Saúde Luís Ricardo Miranda. A dupla foi ao Alvorada para informar ao presidente sobre irregularidades detectadas no contrato de compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin.

De passagem pelo Rio Grande do Sul, o capitão foi obrigado a falar sobre a encrenca numa entrevista à Rádio Gaúcha. Negou-se a confirmar se atribuiu ou não as irregularidades ao seu líder na Câmara, o deputado Ricardo Barros. Nesse ponto, os lábios de Bolsonaro subiram e desceram como acrobatas de circo mambembe, em coreografias mal ensaiadas.

"Eu não me reuni... Ele [Luis Miranda] pediu uma audiência para conversar comigo sobre vários assuntos. Eu não respondo sobre... Eu tenho reunião com mais de 100 pessoas por mês, dos mais variados assuntos possíveis. Eu não posso simplesmente, ao chegar qualquer coisa pra mim, ter que tomar providência imediatamente. Tomei providência nesse caso."

Soou como se quisesse desmentir a reunião com os Miranda. Mas lembrou que havia posado para fotos ao lado dos visitantes. Afirmou uma coisa —"Não posso tomar providência imediatamente..."— e o seu contrário: "Tomei providência nesse caso."

O tema da conversa do Alvorada, nunca é demasiado recordar, foi corrupção na compra de vacina. Se não tomou providências, Bolsonaro enrosca-se no inquérito aberto contra ele no Supremo por prevaricação. Se agiu, precisa explicar porque não incluiu no rol de suas ações um pedido de abertura de inquérito na Polícia Federal.

Bolsonaro não ousou atacar Luis Miranda, seu mais novo desafeto. Para não se indispor com o denunciante, manteve na fogueira da suspeição seu líder Ricardo Barros. É como se o presidente receasse ser desmentido por uma gravação feita sem o seu conhecimento.

O capitão miou como um gatinho até o instante em que reafirmou, em timbre de leão com diarreia, que não cogita responder à carta dos "três bandidos" da CPI. Referia-se aos signatários do documento, os senadores Omar Aziz, Randolfe Rodrigues e Renan Calheiros. Por muito pouco não repetiu o que dissera na quinta-feira: "Caguei para a CPI".

Quem observa a valentia seletiva de Bolsonaro fica com a impressão de que coragem é uma estranha qualidade, que falta ao presidente nos momentos em que ele está mais apavorado.