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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Reação dos militares imuniza Braga Netto na CPI

Flickr/Palácio do Planalto
Imagem: Flickr/Palácio do Planalto

Colunista do UOL

11/07/2021 04h56

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A investigação da CPI da Covid sobre as ações e omissões do governo na pandemia será incompleta se não incluir o depoimento do general Walter Braga Netto, ministro da Defesa. Embora reconheçam a relevância, os senadores que integram o grupo majoritário da comissão hesitam em aprovar a oitiva do general. Receiam produzir uma crise com as Forças Armadas.

Antes de ser transferido para a pasta da Defesa, Braga Netto chefiava a Casa Civil da Presidência. Nesse posto, coordenou um comitê interministerial de combate à pandemia. Interferiu na gestão do Ministério da Saúde na fase em que a pasta sofreu uma intervenção militar sob o comando do general Eduardo Pazuello.

Braga Netto comunicava-se diretamente com o coronel Elcio Franco, Número 2 de Pazuello, responsável pela aquisição de vacinas contra a Covid. O general comandou a reunião em que, segundo o ex-ministro Henrique Mandetta e o presidente da Anvisa, almirante Antônio Barra Torres, o Planalto tentou enfiar o tratamento da Covid na bula da cloroquina por decreto.

Há no gavetão dos assuntos pendentes da CPI um requerimento de convocação de Braga Netto. O autor é o senador Alessandro Vieira. O pedido jamais foi levado à pauta. O general, que já se sentia imunizado, tomou uma espécie de segunda dose de vacina anti-CPI ao articular na semana passada a divulgação de uma nota que assinou junto com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

Elaborou-se a nota a pretexto de responder ao presidente da CPI, Omar Aziz. O senador disse que há muito tempo "não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo." Aziz esclareceu que fazia uma avaliação pontual, pois respeita as forças militares. Não adiantou.

A nota articulada por Braga Netto tachou a manifestação do senador de vil, infundada, leviana e irresponsável. Fora do tom, o texto dos militares terminou com uma ameaça: "As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro."

Consolidou-se na CPI a decisão de reconvocar o coronel Elcio Franco, hoje abrigado sob um contracheque de assessor da Casa Civil. Mas a comissão ainda não reuniu coragem para testar a eficácia da vacina política que o ministro da Defesa aplicou em si mesmo. Hoje, Braga Netto é o general mais afinado com Bolsonaro.