Topo

Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro terá que decidir se deseja presidir o Brasil ou incendiar o circo

Colunista do UOL

03/09/2021 18h14

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Por maiores que sejam os atos convocados por Bolsonaro para 7 de Setembro —e eles não devem ser pequenos—, o presidente acordará no dia seguinte com os mesmos problemas sobre a mesa: a estagnação do PIB, a ruína fiscal, os reservatórios vazios, a crise institucional e a variante Delta. Arroubos e ultimatos não trarão o crescimento econômico, a bonança orçamentária, as chuvas, a harmonia entre os Poderes e o extermínio do vírus.

Nesta sexta-feira, alheio à realidade que engolfa o seu mandato, Bolsonaro foi à Bahia para assinar o contrato de concessão do trecho de uma ferrovia entre as cidades de Ilhéus e Caetité. Ao discursar, não disse uma palavra sobre os trilhos. Falou sobre o 7 de Setembro, sua obsessão. Expressou-se como se desejasse descarrilar as relações institucionais entre o Executivo e o Judiciário.

Bolsonaro referiu-se às manifestações de rua que convocou para o Dia da Independência como um "ultimato" do povo para uma ou duas pessoas do Supremo Tribunal Federal. Os dois desafetos do presidente, como se sabe, são os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, que integram também o Tribunal Superior Eleitoral.

O capitão reiterou que não precisa "sair das quatro linhas da Constituição." Mas avisou que sabe jogar à margem do campo constitucional. "Se alguém quiser jogar fora dessas quatro linhas nós mostraremos que poderemos fazer também valer a vontade e a força do povo." Seus devotos entoaram o coro de sempre: "Eu autorizo."

Na véspera, Bolsonaro dissera que o país está "em paz" e que "ninguém precisa temer o 7 de Setembro." Considerando-se a retomada do timbre bélico, o presidente não falava sério quando soou pacífico.

Os dicionários ensinam que ultimato é a palavra que se usa quando, numa guerra, o chefe militar exige a rendição do inimigo, sob a ameaça de obtê-la por meios mais violentos. Bolsonaro disse que não critica instituições ou poderes. Acha que está guerreando com duas pessoas. Engano.

O TSE e o Supremo avalizam Moraes e Barroso. Bolsonaro já responde a sete processos —quatro na Suprema Corte, três na Justiça Eleitoral. O presidente da Câmara, Arthur Lira, articulou para que os deputados enterrassem a proposta de voto impresso. O mandachuva do Senado, Rodrigo Pacheco, arquivou seu pedido de impeachment contra Alexandre de Moraes.

Bolsonaro está mais isolado do que imagina. Em declínio nas pesquisas, confunde os devotos do cercadinho com o povo. A maioria dos brasileiros não quer fazer manifestação. Prefere fazer a barba —ou a maquiagem— antes de sair para o trabalho. Prefere fazer entrevistas de emprego.

No dia 8 de setembro, a conjuntura continuará cobrando de Bolsonaro uma definição. Ele precisa decidir se deseja presidir o Brasil ou tocar fogo no circo. Em 2022, o brasileiro, já bem chamuscado, irá às urnas para escolher um presidente, não um piromaníaco.