Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Bolsotemer moderado é real como o Saci-Pererê
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A boa notícia é que surgiu em Brasília um Bolsonaro moderado, o Bolsotemer. A má notícia é que se trata de uma lenda.
A nova criatura emergiu do nada num instante em que o golpe de 7 de Setembro naufraga, o impeachment retorna às manchetes, o número de mortos da pandemia se aproxima dos 600 mil, os desempregados somam mais de 14 milhões e a inflação acumulada de 12 meses bateu em 9,68%, impondo maiores sacrifícios aos mais pobres.
Com incontáveis problemas reais sobre a mesa, Bolsonaro passou os últimos dois meses acorrentado a uma agenda 100% feita de fumaça:
1) Ataque às urnas eletrônicas;
2) Defesa do voto impresso;
3) Convocação de manifestações antidemocráticas;
4) Defesa de bolsonaristas como o ex-presidiário Roberto Jefferson, preso por incitar a violência;
5) Demonização dos ministros Alexandre de Moraes e Luiz Roberto Barroso, do STF e do TSE.
No Dia da Independência, Bolsonaro deixou o Alvorada com a disposição de botar fogo no circo. Riscou fósforos na Esplanada dos Ministérios e na Avenida Paulista.
Discursando para multidões de devotos, declarou guerra ao Judiciário; deu um "ultimato" ao presidente do Supremo Luiz Fux, ordenando que enquadrasse Moraes, a quem chamou de "canalha"; jurou descumprir decisões judiciais; desqualificou as urnas; e definiu as eleições de 2022 como uma "farsa" conduzida por Barroso, o presidente do TSE.
Bolsonaro desceu dos palanques de 7 de Setembro convencido de que havia produzido uma demonstração de força. Quarenta e oito horas depois, colecionava evidências de que vive sua fase de maior fragilidade.
Elevou o preço do aluguel do apoio do centrão, derrubou a Bolsa de Valores, salgou a cotação do dólar, foi avisado por Fux de que descumprir ordem judicial é crime e foi chamado por Barroso de "farsante". Ressuscitou Michel Temer. O ex-presidente foi içado de uma catacumba paulista e levado a Brasília num jatinho da FAB, com uma carta conciliatória em punho.
De repente, Bolsonaro se deu conta de que desfila pelo Planalto o pior tipo de ilusão que pode acometer um presidente. A ilusão de que preside. Decidiu colocar sua assinatura na carta de Temer, dando à luz o Bolsotemer.
Suou o paletó para tentar retirar das ruas a turma do Zé Trovão, pseudo-caminhoneiro que organizou barricadas rodoviárias bolsonaristas.
Prenhe de humildade, telefonou para Moraes, o ex-canalha, agora "jurista e professor". Nunca teve intenção de agredir outros Poderes, anota o documento redentor divulgado pelo Planalto 48 horas depois do surto patriótico. Os ataques golpistas viraram descuidos pronunciados no "calor do momento."
O Bolsotemer, nova versão moderada de Bolsonaro, é um ser muito parecido com o Saci-pererê. Só existe em cartas de desesperados e nas florestas do imaginário popular.
O que há no Planalto é um presidente fraco e desgovernado. Com um enorme passado pela frente, ele ainda dispõe de um ano e quatro meses de mandato.
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