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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Moderação de Bolsonaro durou apenas 3 horas

Colunista do UOL

10/09/2021 10h15

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São cada vez mais curtos os intervalos entre as conversões de Bolsonaro à moderação e suas recaídas. Nesta penúltima tentativa, a conversão ganhou a alegoria de uma carta à nação. O tranquilizante durou pouco mais de três horas. Começou a perder o efeito na live semanal do presidente.

Na transmissão ao vivo, sem o socorro da caligrafia de Michel Temer, Bolsonaro não chegou a ficar completamente fora de si. Mas não conseguiu esconder o que tem por dentro.

Eu assisti à live na íntegra. Notei uma enorme preocupação do presidente com as pauladas que recebeu dos seus devotos nas redes sociais. A carta divulgada por Bolsonaro horas foi recebida pelos seus seguidores como uma rendição ao sistema. "Muita gente me criticou, que eu devia fazer isso e aquilo", ele disse. Bolsonaro pediu "um tempo" aos que desejam que ele tome "medidas imediatas".

Comparou a fuga de seguidores nas redes sociais à debandada que ocorreu quando Sergio Moro deixou o governo. Previu que vai recuperar recuperar a confiança dos devotos desgarrados em "dois ou três dias". Foi como se estipulasse um prazo para voltar a distribuir caneladas. Não conseguiu esperar tanto tempo. Ali mesmo, diante da câmera, voltou a esculachar Luís Roberto Barroso. Disse que a defesa que o presidente do TSE faz das urnas eletrônicas "não convence ninguém."

Toda conversão é uma espécie de revolução pessoal. A mais famosa começou na estrada de Damasco, no século 1 do nosso calendário, com o episódio vivido pelo soldado Saulo, um perseguidor de cristãos.

De repente, do nada, Saulo foi paralisado por uma luz ofuscante. Caiu do cavalo. Ouviu uma voz vinda do céu: "Saulo, por que me persegues?" Por algum tempo, ficou cego, tal a claridade que o arrebatou. Assim Saulo se converteu em São Paulo, um dos pilares do cristianismo.

No caso do capitão Bolsonaro, a paralisia ofuscante foi produzida por um sentimento bem mundano: o instinto de sobrevivência. Ele estica e solta a corda à medida que precisa agradar ao sistema e aos seus seguidores radicais.