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Josias de Souza

REPORTAGEM

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Alexandre de Moraes se reúne em sua residência com o ministro da Justiça

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Colunista do UOL

11/09/2021 05h14

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Relator de inquéritos que investigam Bolsonaro, os filhos do presidente e aliados do bolsonarismo no Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes recebeu nesta sexta-feira (10) em sua residência, na capital paulista, o ministro da Justiça, Anderson Torres. Conversaram por mais de quatro horas.

Revelado pelo jornal O Globo e confirmado pela coluna, o encontro ocorreu nas pegadas da divulgação, na quinta-feira, da carta redigida pelo ex-presidente Michel Temer e assinada por Bolsonaro. Nela, o presidente da República fez uma hipotética contrição pelas declarações golpistas que havia proferido nas manifestações do Dia da Independência.

Depois de reiterar sem provas a acusação de que as urnas eletrônicas são passíveis de fraudes, de ameaçar descumprir ordens judiciais e de atacar os ministros Luís Roberto Barroso e o próprio Moraes, a quem chamou de "canalha", Bolsonaro alegou que não teve "nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes". Atribuiu o destempero verbal ao "calor do momento."

A reunião de Torres com Moraes foi avalizada por Bolsonaro. Nas palavras de Torres, foi uma "conversa republicana, que precisa e deve ser conduzida pelo ministro da Justiça." O objetivo seria discutir "o futuro das boas relações institucionais no Brasil."

Anderson Torres é um dos investigados em inquérito administrativo aberto no Tribunal Superior Eleitoral sobre as acusações feitas por Bolsonaro ao sistema eleitoral eletrônico em live transmitida desde a biblioteca do Alvorada, com transmissão pela TV Brasil, no dia 29 de julho. Torres estava ao lado do chefe. Foi interrogado em 12 de agosto pelo corregedor-geral do TSE, ministro Luis Felipe Salomão. Não apresentou provas das alegadas fraudes.

O inquérito do TSE foi aberto por decisão unânime dos sete ministros do TSE, entre eles o próprio Alexandre de Moraes, que também dá expediente na Corte eleitoral. Na última quinta-feira, ao rebater como presidente do TSE as acusações reiteradas por Bolsonaro nas manifestações de 7 de Setembro , Luís Roberto barroso referiu-se à live de 29 de julho como algo que "deverá figurar em qualquer futura antologia de eventos bizarros."

"É tudo retórica vazia", declarou Barroso. "Hoje em dia, salvo os fanáticos —que são cegos pelo radicalismo— e os mercenários —que são cegos pela monetização da mentira—, todas as pessoas de bem sabem que não houve fraude e quem é o farsante nessa história."

O corregedor-geral Luis Felipe Salomão anexou ao inquérito do TSE um pedido enviado por Alexandre de Moraes para que Anderson Torres, potencial candidato ao governo do Distrito Federal em 2022, fosse investigado por propaganda eleitoral antecipada. No ofício, Moraes pediu a Salomão para adotar as "providências cabíveis" diante da possibilidade de Torres ter participado da transmissão ao lado de Bolsonaro para "ganhar visibilidade".

Afora o encontro com o Ministro da Justiça, Moraes manteve conversa telefônica com Bolsonaro na quinta-feira passada, apenas 48 horas depois de ter sido chamado pelo presidente de "canalha". O contato foi intermediado por Michel Temer, que indicou Moraes para o cargo de ministro do Supremo quando era presidente da República.

Enquanto discutia com Bolsonaro, no Planalto, os termos da carta em que o capitão expressou seu hipotético arrependimento pelos arroubos do Dia da Independência, Temer tocou o telefone para Moraes, e repassou o celular para o presidente. Assim como o teor da "conversa republicana" que manteve com Torres em sua casa, o conteúdo do diálogo telefônico de Moraes com Bolsonaro é desconhecido. Moraes será presidente do TSE nas eleições de 2022.