Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Temer ri de sua piada, o Bolsonaro 'moderado'
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Mal comparando, Temer frequenta a conjuntura numa situação muito parecida com a do padre da anedota, que chega no céu ao mesmo tempo que o motorista de ônibus bêbado.
O porteiro do céu recebe o motorista efusivamente. Manda-o entrar direto, sem burocracias. E detém o padre, que fica indignado.
— Mas como? Eu, um religioso, servo do Senhor, preciso preencher formulários e entrar na fila para uma entrevista. O outro, pecador contumaz, entra direto!
— Questão de serviços prestados. Durante os seus sermões, caro padre, todos dormiam na igreja. Quando o motorista bêbado dirigia, todos os passageiros do ônibus rezavam.
O brasileiro não sabe o que é pior, se o Bolsonaro do 7 de Setembro, que pôs o país de joelhos, assustado com a ameaça de golpe, ou o Temer de 9 de Setembro, que operou o pseudo-milagre da moderação do capitão.
O ocorrido na porta do céu com o padre e o motorista revela que a virtude está no fato, não na intenção. Todo mundo sabe que o Bolsonaro real é aquele que xinga de "canalha" o Alexandre de Moraes.
O outro capitão, que, passado o "calor do momento", enxerga no desafeto um "jurista e professor", é apenas a penúltima do Temer.
Num instante em que bolsonaristas se esfalfam nas redes sociais tentando transformar a capitulação do mito em jogada de mestre, Temer gargalhou de sua piada em jantar na casa do especulador Naji Nahas.
Cercado de gente chique, o humorista André Marinho converteu o Bolsonaro da carta-rendição numa caricatura muito parecida com o personagem que dá expediente no Planalto, a primeira piada a presidir o país.
Graças à ação de Temer, o impeachment voltou para o freezer. O problema é que, quando um mandato precário se prolonga por muito tempo, o humor readquire vida própria, escapa das mãos de profissionais como Temer, se torna negro.
Mãos postas, o brasileiro reza para que Bolsonaro não jogue o país na ribanceira na próxima curva. Quanto a Temer, convém ensaiar a autodefesa que terá de apresentar na portaria do céu.
Na Presidência, Temer livrou-se de um par de denúncias criminais. Mas uma coisa é ser o rei dos palhaços. Pecado bem mais grave é ser, por assim dizer, o palhaço do rei.
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